New York no Século XIX
Nova York cresceu desenvolveu-se bastante do Século XIX, mas enfrentou revoltas e conflitos, com o desembarque em seu porto de multidão de imigrantes europeus que, movidos pela fome em seus países de origem, buscavam uma nova via em solo americano.
Imigração, miséria e conflitos
No começo da década de 1820, Nova York já era o maior centro urbano dos Estados Unidos, com 120 mil habitantes. Em 1830, a população subiu para 200 mil pessoas. O crescimento acelerado acentuou-se a partir de então, com a chegada de enormes levas de imigrantes da Europa Ocidental, da Europa Oriental e da Ásia. O primeiro grande grupo de imigrantes, composto por milhares de irlandeses católicos fugidos da fome que assolava seu país, começou a mudar o perfil de uma população até então predominantemente protestante e descendente de ingleses.
Um acelerado processo de industrialização
Desde então, a cidade nunca mais seria a mesma. Nas décadas seguintes, chegariam poloneses, ucranianos, russos, alemães, gregos, italianos, chineses e judeus oriundos sobretudo da Europa Oriental. Essa imensa massa de mão-de-obra barata constituiria o operariado em uma cidade que se encontrava em pleno processo de industrialização. Seus raros componentes mais qualificados e aqueles poucos que tinham conseguido trazer consigo algum capital viriam a formar uma incipiente burguesia de artesãos e pequenos comerciantes.
Calçadas cobertas e ouro?
O fato é que muitos imigrantes chegavam aos Estados Unidos completamente iludidos. Os menos instruídos acreditavam cegamente na lenda de que as ruas de Nova York eram pavimentadas com ouro. Como escreveu Richard Gambino no livro Blood Of My Blood, ao chegar eles viam que as ruas não eram calçadas de ouro; que, aliás, nem eram calçadas; e que caberia a eles, imigrantes, o trabalho de calçá-las…
Para a maioria dos imigrantes, favelas insalubres
Nova York não estava estruturada para receber tantos novos moradores. A maioria da população morava em favelas insalubres que ocupavam toda a região ao norte do City Hall. Nem água corrente havia. No verão de 1832, a concentração urbana e a falta de saneamento básico favoreceram um violento surto de cólera que provocou a morte de mais de 4 mil pessoas.
O incêndio de 1845
Mal os nova-iorquinos haviam se refeito do terror da epidemia quando um devastador incêndio castigou a cidade em 1845. A boa vontade dos firemen nova-iorquinos não conseguiu evitar a destruição de mais de seiscentos imóveis de madeira no sudeste de Manhattan. Era dezembro, a temperatura era de 17ºC negativos, cisternas e poços estavam congelados. Foi então que o governo acordou para a realidade e começou a construir um aqueduto, inaugurado em 1842. Mesmo assim, a cidade não escapou de outros incêndios, de menores proporções mas com muitas vítimas.
O New York Police Department
O New York Police Department (NYPD) foi criado em 1845. Até então, o policiamento da cidade, resumido a pouco mais que alguns vigias noturnos, parecia ser o bastante, mas o rápido crescimento demográfico, que trazia consigo miséria, violência e conflitos, passou a exigir a existência de um órgão que zelasse pela ordem pública.
Metade da população formada por imigrantes
Em meados do século XIX, metade da população já era composta por imigrantes, boa parte dos quais moravam em tenements: prédios de poucos andares construídos especialmente para moradia proletária, com apartamentos minúsculos e banheiros de uso coletivo. O primeiro tenement de Nova York foi construído em 1833 pelo magnata do aço James Allaire nas proximidades de sua fundição na Water Street. Verdadeiros cortiços, os tenements eram quase tão propícios à propagação de doenças quanto as favelas que substituíam. E também eram um bom negócio, pois os moradores pagavam aluguel.
Um novo incêndio de 1860
Depois que 200 pessoas morreram em 1860 no incêndio iniciado em um tenement na Elm Street, a lei passou a obrigar os edifícios a possuírem pelo menos uma janela em cada moradia e fire escapes (escadas de incêndio, marca registrada dos prédios de Nova York e um dos cenários favoritos de perseguições policiais não-motorizadas em filmes norte-americanos). Isso não resolveu o problema; foram abertas janelas para dutos de ventilação, onde eram jogados detritos, tornando a situação pior do que antes. Somente em 1901 uma nova lei deixou claro: a janela tem que dar para a rua!
As Draft Riots
Em 1863, durante a Guerra da Secessão, eclodiram as Draft Riots, revoltas das classes populares lideradas por imigrantes irlandeses. Embora a pobreza e as péssimas condições de vida e de trabalho fossem os motivos reais, o estopim da insurreição foi o alistamento para a guerra: os ricos podiam pagar US$ 300 e mandar alguém em seu lugar, o que os pobres não tinham como fazer. A sublevação despertou sentimentos xenófobos contra os irlandeses e acabou por ganhar contornos racistas quando, por meio de um raciocínio tortuoso e perverso, os negros foram considerados responsáveis pela guerra e, conseqüentemente, pelo recrutamento militar.
O racismo
Delegacias de polícia, centros de alistamento e residências de negros foram atacadas e muita gente morreu nos conflitos de rua. Negros foram linchados. Até um orfanato de crianças negras foi atacado. O máximo que se conseguiu foi conter os manifestantes até a retirada das crianças. Frente à impotência do NYPD em conter os distúrbios, que ocorreram principalmente no miserável bairro de Five Points, foram enviadas tropas militares a Nova York. Mesmo assim, seguiram-se quatro dias de violência até a ordem ser reestabelecida.
Dicas
As visitas a tenements restaurados organizadas pelo Lower East Side Tenement Museum permitem conhecer por dentro como eram essas moradias. (Mas nelas hoje tudo é arrumado e limpo; a realidade era bem diversa.)
As Draft Riots inspiraram o filme Gangs de New York
As revoltas foram pano de fundo do filme Gangs of New York (2002), de Martin Scorsese, com Leonardo di Caprio e Daniel Day-Lewis.
How The Other Half Lives (Como Vive a Outra Metade Um retrato realista das condições de vida dos moradores dos tenements nova-iorquinos foi traçado em 1890 pelo jornalista dinamarquês Jacob Riis, ele próprio um imigrante, no clássico trabalho fotojornalístico How The Other Half Lives (Como Vive a Outra Metade).
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