No final da década de 1560, um novo rei, Dom Sebastião, com apenas 14 anos, subiu ao trono de Portugal. Educado por jesuítas, religioso ao extremo, embuído da ideia de que teria como missão submeter os infiéis, teimoso, bajulado pelos padres e pela corte, achava-se um grande guerreiro. Porém, desprovido do mínimo bom senso, o jovem monarca era um trapalhão.
Sebastião, o trapalhão
Em 1578, Sebastião, aos 24 anos, invadiu o Marrocos e, ignorando os conselhos de seus oficiais, deu início às hostilidades, sendo literalmente esmagado pelos árabes na batalha de Alcácer-Quibir, na qual os portugueses perderam praticamente todo seu exército.
Sebastião ia se casar com a filha do rei espanhol Felipe II, mas o futuro sogro, que não acreditava nos delírios do genro, prudentemente resolveu deixar o casamento para quando o reizinho regressasse (Vai lá, Tião, na volta a gente conversa…).
O corpo de Dom Sebastião nunca foi encontrado. Como é típico dos povos acreditar em salvadores e messias, durante muito tempo (mesmo vários séculos depois!) os portugueses alimentaram o mito que tomou o nome de Sebastianismo, segundo o qual, um dia, Dom Sebastião voltará para tirar o país de suas dificuldades. O garotão nunca deu as caras.
As consequências das aventuras de Dom Sebastião
A desastrada aventura de Sebastião teve consequências. Os nobres capturados conseguiram ser libertados, mas tiveram que pagar um pesado resgate, o que ajudou a acabar com a economia do reino. Quem não tinha dinheiro para pagar foi escravizado.
Para complicar, como Sebastião, que era o último rei da dinastia Aviz, não deixou descendentes, vários candidatos reivindicaram o trono português. Quem acabou ficando com a coroa foi Filipe II da Espanha, neto de Dom Manuel I, que assumiu o trono português em 1580 com o título de Filipe I e passou a governar ambos os países.
A União Ibérica
Inicialmente, a União Ibérica foi benéfica para vários setores da sociedade lusitana. Filipe concedeu bastante autonomia aos portugueses e evitou, sempre que possível, interferir nos assuntos internos do país. Do lado de cá do oceano, súditos portugueses sentiram-se mais à vontade para avançar para oeste, começando a ocupar terras que pelo Tratado de Tordesilhas eram espanholas. Já que as colônias pertenciam a um mesmo soberano, por que não? Quem ficou um pouco maior com isso foi o Brasil: por um desses caprichos da história, foi em parte graças a esse rei desmiolado que nosso país possui um gigantesco território. Por outro lado, a união com a Espanha trouxe desvantagens: os holandeses, inimigos dos espanhóis, aproveitaram para atacar o nordeste do Brasil, instalando-se em Olinda durante muitos anos.
As primeiras divergências
Após a morte de Filipe I seus sucessores mostraram-se menos ciosos da autonomia portuguesa. Quando, em 1640, os catalões se levantaram contra o governo de Madri, a corte espanhola exigiu que Portugal fornecesse soldados para ajudar a combater a rebelião, medida que provocou forte descontentamento junto aos portugueses. Mesmo entre a nobreza, que se mostrara inicialmente favorável à União Ibérica, as exigências espanholas soaram descabidas. Lutando contra a falta de mão de obra para cultivar suas terras, os nobres lusitanos não se sentiram motivados em ceder seus peões para lutar do outro lado da Península Ibérica, que não lhes dizia respeito. Embora boa parte dos barões portugueses ainda se mostrassem leais à Espanha, metade deles revoltaram-se.
Portugal recupera sua independência
O momento era propício. Já existia um forte descontentamento popular em Portugal contra os altos impostos cobrados por Madri, que poderia ser canalizado para a causa independentista. Além disso, os reis espanhóis já estavam bastante ocupados em combater a insurreição na Catalunha e teriam mais dificuldade em criar um segundo front. Para comandá-los os nobres partidários da independência elegeram Dom João, Duque de Bragança, propondo-lhe que reivindicasse para si a coroa portuguesa. Este em um primeiro momento relutou em aceitar, mas acabou concordando e ocupou o trono com o título de Dom João IV.
Os interesses dos nobres e da Igreja
Os nobres, porém, exigiram que o rei se submetesse às cortes, limitando seus poderes. Também reivindicaram a isenção de certos impostos, enquanto a Igreja, por sua vez, mostrou-se mais uma vez avessa a qualquer tributação, mesmo gerenciando inúmeras propriedades produtivas. Esse foi um período conturbado da história do reino, com a Igreja, nobres, burocratas e burgueses lutando entre si ou estabelecendo alianças de conveniência. Durante 28 anos a Espanha, com o apoio do papa, relutou em reconhecer a independência de Portugal, forçando o país a buscar uma aliança com a Inglaterra e a recrutar mercenários nas Ilhas Britânicas.
A aliança com os ingleses
Para consolidar essa aliança, Catarina de Bragança casou-se com Carlos Stuart, rei da Inglaterra. O dote da princesinha saiu caro. Os ingleses ficaram com Tânger, no Marrocos, e Bombaim, na Índia, além de embolsarem dois milhões de moedas de ouro. Aproveitando-se da indignação popular com o generoso dote pago à Inglaterra, uma facção que preferia aliança com os franceses tomou o poder e impôs como regente o conde Castelo Melhor.
Dom Afonso VI
O filho da rainha, que foi declarado rei com o título de Afonso VI, era hemiplégico e portador de problemas neurológicos, que lhe causavam falhas de memória e raciocínio. Embora tivesse vencido os espanhóis, o partido de Castelo Melhor acabou afastado do poder pelo infante Dom Pedro, irmão mais novo do rei, que abocanhou não apenas o trono, mas ficou com a cunhadinha, a esposa de Afonso, que aparentemente era incapaz tanto de governar como de cuidar de seus deveres de esposo. Convém lembrar que fatos como esse eram comuns não apenas em Portugal, mas em toda a Europa de então, quando parentes lutavam entre si pela posse dos tronos, recorrendo se preciso, a guerras e assassinatos. Muitas famílias reais europeias eram aparentadas entre si, sendo comuns os casamentos destinados a selar alianças internacionais.
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