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A língua dos latinos
A tendência de muita gente é achar que o italiano, por ter se desenvolvido no mesmo espaço geográfico que o latim, é muitíssimo mais parecido com ele do que as outras línguas de origem latina. O que acontece é que o italiano incorporou, a partir daí, mais elementos diferentes que o português ou que o espanhol. O italiano sofreu influências também dos normandos, dos bizantinos (gregos), do próprio espanhol, dos godos, dos gauleses, dos francos, de dialetos germânicos e de línguas faladas por outros povos bárbaros que ocuparam partes da Itália após a queda do Império Romano, bem como do provençal e do francês.
Quando o latim virou italiano
Afinal, quando o latim virou italiano? Acredita-se que já no século V da era cristã a língua que então se falava na Itália não era mais exatamente latim, nem mesmo latim vulgar, mas algo já um tanto diferente, embora não fosse ainda um italiano arcaico. Só os padres falavam latim. Um documento escrito em 960 parte em dialeto napolitano, parte em latim, e conservado no mosteiro de Montecassino, perto de Nápoles, vem sendo considerado o ato de “nascimento” do idioma italiano.
Mas — chegou o momento de perguntar — de qual italiano afinal estamos falando? Como sabemos, a Itália era dividida em pequenos estados e isso não ajudou a unidade linguística. Assim, havia vários “italianos”, como o napolitano, o siciliano, o veneziano, o romano e o florentino, que eram dialetos diferentes (e que, até hoje, são falados em suas regiões!). Foi o florentino que se tornou o italiano oficial, não sem dificuldades, é verdade.
O toscano, língua oficial da Itália
Algumas razões contribuíram para que a Toscana se tornasse o modelo do idioma italiano. Já existia, por exemplo, uma literatura regional com obras importantes publicadas nesse idioma, como A Divina Comédia, de Dante, os sonetos de Petrarca e os contos de Bocaccio. Digamos que esses três mestres registraram a ”marca” florentina antes das demais. Principalmente Dante, que achava horrível o dialeto romano, se empenhou nisso. Mais tarde, outro personagem de peso também fez sua opção pelo florentino: Maquiavel. Com cabos eleitorais tão poderosos, o toscano teria mesmo que ganhar essa disputa (embora a “Questione della lingua” tenha perdurado por séculos). Também pode ter influenciado a opção pelo florentino a importância de Florença no fim da Idade Média e no Renascimento como centro financeiro e comercial, pois os contratos eram escritos nessa língua.
Apesar de os italianos viverem fazendo piadinhas com o dialeto do vizinho, inclusive com o modo de falar toscano (igualzinho a nós no Brasil, com nossos diferentes sotaques!), o italiano que se fala em Florença é realmente bello e dolce… Dá gosto ouvi-lo!
¨A aventura das línguas no Ocidente”, de Henriette Walter, é fundamental para entender o que aconteceu com as línguas europeias após o fim do Império Romano.