O Deserto de Thar no Rajastão
Relato de viagem: três brasileiros pela Índia
O deserto de Thar, no Rajastão, uma boa surpresa. Depois de curtirem Udaipur (leia a respeito), Chico, Melina e Barão alugaram um carro com motorista para ir até Jodphur, Jaisalmer e Pushkar, outras cidades particularmente interessantes da região. Essa é a melhor maneira de se percorrer o Rajastão fora de uma excursão. O aluguel do veículo, muito barato quando é contratado lá, já inclui a gasolina e o serviço do motorista, indispensável numa região onde muita gente não fala inglês e onde, em alguns cruzamentos em pleno deserto, só há placas no idioma local; o estrangeiro não consegue entender nem o alfabeto!
A caminho de Jodphur, pararam em Ranaktiphur, onde há um grandioso templo jainista no meio de um jardim.. Os jainistas são uma seita pacifista e para eles, matar qualquer ser vivo é abominável. Por isso mesmo, não se pode entrar com nada de couro no interior de seus templos.
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Mapa do Rajastão
Jodhpur
Quando chegaram a Jodhpur, oito horas depois (ufa!), já no final do dia, foram direto visitar o forte, principal atração da cidade. Construído pelos mongóis no alto de uma colina, o forte era considerado inexpugnável no passado. Do alto de suas muralhas, pode-se ver parte do deserto e a cidade, que tem muitas de suas casas pintadas num tom azul leitoso, incomum em outros lugares do país. Mas isso se explica: em Jodhpur, os brâmanes moram em casas azuis.
O deserto de Tahar, no Rajastão
Prosseguindo no dia seguinte a viagem para Jaisalmer, notaram que, enquanto a região entre Udaipur e Jodphur, mesmo sendo árida, tem alguma vegetação e plantações irrigadas, agora a estrada avançava por um deserto pedregoso, o Tahar. O percurso tomou quase seis horas, mas nossos três quase incansáveis viajantes foram recompensados pela chegada à majestosa Jaisalmer, no alto de um platô e rodeada de poderosas muralhas. Parecia imagem saída de um filme!
Jaisalmer, uma cidade medieval em pleno deserto
Jaisalmer, cidade, do século XII, tem traçado medieval, e a impressão que dá é que seu povo ainda vive na Idade Média, vendendo coisas na rua, pastoreando cabras e tocando camelos. Melina, Barão e Chico se sentiram voltando no tempo.
Jaisalmer já foi um rico entreposto comercial, parada obrigatória das caravanas de camelos que atravessavam o Rajastão levando mercadorias de Delhi para o porto de Gujurat. A construção de linhas férreas provocou a decadência da cidade, que ficou esquecida no tempo até ser, recentemente, descoberta pelo turismo. Embora mal conservada, Jaisalmer tem ruas estreitas, passagens cobertas ligando as construções e uma arquitetura de tirar o fôlego, com palácios, templos, tudo feito com a mesma pedra amarelada.
Video sobre o Rajastão
Havelis
A maioria desses palácios, chamados de havelis, foi abandonada pelos seus proprietários, ricos senhores que no passado controlavam as caravanas de camelo. A riqueza das fachadas é inacreditável: até as treliças, que você jura ser de madeira, são de pedra! (Explica-se: o platô onde foi construída a cidade de Jaisalmer é todo de pedra calcária, fácil de ser esculpida…)
Uma dica de hospedagem
- Barão aconselha quem for visitar Jaisalmer a hospedar-se na parte da cidade que fica dentro das muralhas, a mais interessante, onde há vários pequenos restaurantes. Ele se recorda da vista do terraço de um deles, de cozinha italiana: “Dá para entender a cidade, ver onde ela começa e termina, e o panorama do deserto é incrível”.
As vacas sagradas
Percorrer as ruas de Jaisalmer pode ser emocionante. Foi lá que o cético Chico, pela primeira vez na vida, bateu de frente com o sagrado. Não, ele não virou guru nem mago. Foi algo mais concreto: estavam pela rua quando uma vaca veio na direção deles e investiu contra Chico. Nada grave, mas doeu; afinal, chifradas sempre doem um pouco…
Melina explica que a presença das vacas em Jaisalmer obrigou-os a viver em um estado de permanente atenção. “Nas ruelas, o animal ocupa toda a largura da via e quase não sobra lugar para você passar”.
Jaisalmer
Viajantes se deparam com uma curiosa loja chamada Bang Shopping, que vende produtos à base de haxixe (um tipo de Cannabis sativa): bolachas, chocolate, chá, iogurte, etc. Trata-se de um comércio aparentemente legalizado, que fornece um atestado que (dizem os proprietários do estabelecimento…) permite transportar seus produtos pelo país. Legal, talvez, mas talvez também não muito saudável… Os três contam que um francês que conheceram lá havia comido algumas dessas bolachas. Ficou para lá de Marrakesh!
Ajmer
A etapa seguinte foi Ajmer. Ignorando, dessa vez, nossos conselhos, os três tomaram um ônibus, achando que seria mais rápido que o carro. De fato, os ônibus, na Índia, às vezes bem velhos, soltando parafusos, em geral correm como loucos, mais do que os carros de aluguel. Chegaram à rodoviária meia hora antes da hora da partida, tomaram seus assentos e tudo parecia muito tranqüilo: o veiculo estava quase vazio.
Porém, uns cinco minutos antes do ônibus sair, os passageiros começaram a chegar repentinamente e ocuparam cada vão livre. Devido à distância e às incontáveis paradas no caminho, a viagem demorou dez horas. Para eles, foram horas intermináveis, com o ônibus lotado, passageiros em pé, odor de transpiração, crianças chorando e bancos desconfortáveis em um veículo de suspensão dura, que os fazia sentir na carne cada buraco da estrada.
Exaustos, nossos amigos chegaram a Ajmer às três da manhã. “A Ajmer” é modo de dizer: o ônibus os deixou na estrada, longe do centro da cidade. Mas auto-rick-shaws já esperavam os passageiros que desembarcariam de madrugada. É incrível, a Índia funciona! Ou quase. Por falta de opção em razão do horário, eles foram parar em uma espelunca. Trocaram de hotel na manhã seguinte.
Ajmer não tem muito atrativos; é uma base para se visitar a cidade sagrada de Pushkar, bem perto dali, onde existe um famoso templo bramânico. Em Pushkar, a alimentação é exclusivamente vegetariana, o álcool é proibido e há até placas na entrada alertando sobre as restrições. Assim que se instalaram, os três saíram para passear, contentes por escapar do trânsito e da poluição de Ajmer. Formada por apenas duas ou três ruas circulares em volta de um lago, a pequena Pushkar é sede, em algumas épocas do ano, de celebrações religiosas que atraem peregrinos da Índia inteira e de gigantescas feiras de camelos por onde circulam mercadores vindos de diversas cidades do Rajastão. Como Pushkar não tem acomodação para tanta gente, peregrinos e comerciantes armam sua tendas em volta da cidade.
Pushkar
Os três observaram que, talvez por causa da presença cada vez maior de viajantes ocidentais, a proibição do álcool em Pushkar não é muito levada a sério. O dono de um lugar onde pararam para comer para comer uma pizza (segundo o Barão, deliciosa) foi logo anunciando que, se quisessem, poderiam tomar cerveja. “Mas não é proibido? ” O indiano explicou: “It s black market… ” (“É mercado negro… “). Ah, bom…
Em Pushkar não circulam carros, todo mundo anda a pé. Isso agradou ao nossos amigos, que puderam flanar tranqüilamente e curtir a energia da Índia, sem se sentirem sufocados como nas grandes cidades. Essa característica de Pushkar, somada à beleza de seu lago, atrai muitos estrangeiros de tendências mais alternativas. Melina notou que muitos deles haviam alugado casas e estavam dispostos a passar uma temporada por lá. Os três lamentaram não terem se hospedado em Pushkar.
Jaipur
Depois da péssima experiência da viagem de ônibus até Jaisalmer, Melina, Barão e Chico caíram na real e alugaram um carro com motorista para ir, por 30 dólares, até Jaipur, a capital do Rajastão. Como o que tinham alugado antes, o veículo era um Ambassador, modelo compacto inglês de quatro portas, criado na década de 1960, que funciona a óleo diesel. Apesar de antiquado e pesadão, esse carro dificilmente quebra e é espaçoso por dentro. Mais uma vez, eles viram que a dificuldade de locomoção na Índia não é brincadeira: para percorrer 180km, levaram quatro horas!
Em Jaipur tiveram uma experiência diferente, ficando num pequeno palácio de uma família de casta nobre que habitava uma ala da casa e recebia alguns hóspedes em outra.
Um jantar refinado
A noite seus anfitriões os convidaram para um show. O ingresso, de quinze dólares, incluía também um jantar. O evento era organizado por uma inglesa, que recolhia doações para a restauração de palácios e templos. Pelo trato, perceberam que os convidados eram quase todos indianos de uma burguesia sofisticada, de educação britânica, um tipo de gente diferente da que haviam conhecido até então. O jantar, é claro, foi refinado.
O trânsito louco de Jaipur
A circulação louca de Jaipur e a barulheira foram compensadas pelas atrações da cidade, sobretudo o Forte de Amber. De arquitetura mongol, ele fica no topo de uma colina em cuja encosta há um lago. A vista do alto é espetacular e, aliada à bela arquitetura, faz desse forte, juntamente com o de Jodphur e o de Agra, um dos mais interessantes do país. A subida pela rampa até o forte pode ser feita de elefante, como faziam os marajás. (O povão subia a pé mesmo!). Nossos amigos pagaram, cada um, dez dólares por esse luxo, e ficaram impressionados com os detalhes da decoração do interior do forte e com o enorme número de macacos soltos, fato comum em templos, fortes e palácios do país.
Jaipur é um ótimo lugar para comprar bijuterias de prata e pedras semipreciosas e artigos de decoração. Isso não passou despercebido pelos três viajantes, que ficaram admirados com a quantidade, a riqueza e a variedade das peças encontradas nas lojas. Melina notou que, embora muitos artigos fabricados em uma cidade possam ser também encontrados em outros lugares da Índia, nem sempre isso é possível. Algo que você deixou de comprar em Jaipur, talvez não encontre em Delhi.
Próxima etapa:
Delhi, a capital da Índia