Louvain: a capital dos flamengos
por Ana Laura Visentini
Às margens do rio Dijle encontra-se Louvain, uma das cidades belgas mais bonitas que visitei! Cheia de encantos, a capital da província de Brabante, em Flandres, que para os francófonos é Louvain e para os flamengos, Leuven, agrada a todos que a conhecem.
A cidade tem mais de mil anos de história. Os primeiros escritos datam do final do século IX, e ela foi praticamente destruída e reinventada por duas vezes. Entretanto, suas construções estão habitadas e abertas a visitações.
Mapa de Louvain
A cidade antiga
Sua beleza estética é inexplicável, fora do comum. Refiro-me, em especial, à cidade antiga e sua praça, com muitos restaurantes e bares, festas populares e manifestações artísticas, além do prédio que abriga a prefeitura da cidade. Em estilo gótico, a prefeitura foi construída entre 1439 e 1639, e sua fachada, decorada com 236 estátuas de figuras simbólicas da época. Uma maravilha da arquitetura!
Uma pequena cidade universitária
O lugar é conhecido mundialmente por abrigar uma das mais antigas Universidades Católicas do mundo ainda em existência, sendo também a maior da Bélgica. Estou me referindo à Katholieke Universiteit Leuven (Universidade Católica de Louvain), inaugurada no século XV, em 1425, e referência em autos estudos de engenharia, biotecnologia e música. E como em todas as cidades universitárias, em Louvain também é possível viver a efervescência jovem em cada canto.
No período letivo, a cidade cresce, havendo um aumento populacional considerável. Sua população, que é pouco menor que 100 mil habitantes, ultrapassa os 115 mil, tamanha é a procura por essa renomada instituição de ensino. São mais de 40 mil estudantes divididos entre os 55 cursos de graduação e os mais de 100 programas de mestrados acadêmicos. Para os que pretendem estudar faculdade de Música, lá está presente um dos maiores conservatórios da Bélgica, o Instituto Lemmens, muito procurado por estudiosos da área por sua formação em Musicoterapia e Drama.
Não preciso nem comentar o quanto a economia da pequena cidade gira em torno dessa instituição universitária e de suas pesquisas acadêmicas. Muitas instituições governamentais também estão localizadas ali, junto de empresas de biotecnologia e de um hospital universitário que é referência em pesquisas na área da saúde.
Apesar de muitos estudantes morarem dentro das instalações universitárias, um grande número de jovens, também, aluga pequenos estúdios ou quartos compartilhados distribuídos por todos os lados da cidade.
Uma cidade de ótimas cervejas e ótima gastronomia
O comércio de bares e restaurantes é intensamente rico, oferecendo uma variedade considerável de cervejas, comidas e drinks. E por falar em bebidas, Louvain é a capital da cerveja. Muitas marcas surgiram na cidade, mas duas delas são bem conhecidas por nós, brasileiros, a Stella Artois e a Domus.
A legítima Stella Artois
Para os amantes de cerveja, uma das marcas mais conhecidas e desejadas pelos brasileiros vem de Louvain: a Stella Artois. Hoje a marca pertence à InBev, maior grupo cervejeiro do mundo e fabricante também da Brahma, Leffe, dentre outros rótulos.
A história dessa bebida é muito interessante: a pequena Cervejaria Den Hoorn começou a criar a bebida por volta de 1366. Anos mais tarde, com a fundação da Universidade, a Cervejaria acabou virando ponto de encontro dos universitários. Curiosos, alguns jovens estudantes desenvolveram estudos de produção da bebida nos laboratórios da própria Universidade, para aprimorar as técnicas que, na época, eram rudimentares. Hoje em dia, os laboratórios seguem sendo utilizados em pesquisas acadêmicas sobre produção e aperfeiçoamento de cervejas belgas.
Em 1708, um mestre cervejeiro de Louvain comprou a pequena Cervejaria. Ele se chamava Sebastian Artois e deu seu nome ao novo negócio, que passou a se chamar Cervejaria Artois em 1717.
Uma edição especial da bebida foi criada para o Natal, como um presente ao povo de Louvain. Ela era clara e brilhante e acabou tendo o nome Stella, que em latim significa estrela. E graças e esse presente natalino, hoje podemos nos deliciar com a Stella Artois também no Brasil.
A heroína das guerras: um pouquinho da história
Historicamente, Louvain sofreu muito com as duas guerras mundiais. Na 1º Guerra foi atacada por soldados alemães e mais de 300 belgas morreram, entre civis e militares, o burgomestre (prefeito) de Louvain e o reitor da Universidade estavam entre eles.
Fragilizada e sem segurança, a biblioteca universitária foi atacada e incendiada em meio às batalhas. Foram destruídos mais de 230 mil livros e manuscritos medievais, incluindo literatura do período gótico e renascentista, assim como mais de 1000 incunábulos (obras impressas antes de 1500). Uma lástima para a história local e para a literatura.
Anos mais tarde, na 2º Guerra, a cidade passa novamente por ataques de alemães e o novo prédio da biblioteca da Universidade também é destruído. Agora, os números de exemplares perdidos chegam a um milhão. Inacreditável!
Mas ela resistiu. Enfraquecida e sem forças era para a bela cidade não existir mais no mapa. No entanto a cidade sobreviveu, se reconstruiu, mas ainda guarda uma grande tristeza pelas perdas do passado.
Conhecendo Louvain: o que ver e fazer
Alugue uma bicicleta e conheça Louvain pedalando. Há muitos ciclistas andando pelas ruas e locais para alugá-las. Por ser uma pequena cidade, os passeios são fáceis e os pontos turísticos ficam pertinho uns dos outros.
Vá à praça antiga e aprecie o prédio da prefeitura, sente-se em algum dos restaurantes em frente a ele e peça uma Stella Artois direto das torneiras, na pressão. Logo depois, caminhe pelas ruas ao redor da praça e observe a arquitetura dos pequenos prédios, é um encanto.
Visite a Universidade também. Além de interessante, é possível sentir o período medieval em que ela foi inaugurada. Há um gramado interno, no centro do prédio, e algumas estátuas decorando o lugar.
E se você é um daqueles que ama cerveja, faça uma visita guiada a uma das fábricas da cidade. Pode percorrer a Domus ou a Stella Artois e cada visita leva em média 30 minutos. Muitos grupos de turistas buscam esse divertimento. Dá para fazer tudo a pé ou de bicicleta.
Na Stella Artois, as visitas são marcadas aos sábados e domingos. Dentro da fábrica você poderá ver os processos de fermentação nos tanques e o engarrafamento da bebida. E para finalizar, há uma super degustação no bar da fábrica.
Na Cervejaria Domus, as visitas acontecem o ano todo, também sob reserva. Os turistas poderão apreciar a produção de cervejas de duas formas. Uma pequena visita guiada, com 30 minutos de duração e no final a degustação. Ou ainda, uma visita mais duradoura com degustação de cerveja e jantar. Site da cervejaria Domus
Tanto faz a escolha da cervejaria, as opções de visitas são criativas e certamente você jamais irá esquecer. Só não esqueça de reservar antes!
Site oficial de turismo de Louvain (Leuven)
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Sobre a autora da matéria
Ana Laura Visentini, uma moça de espírito aventureiro, mudou-se para a Bélgica para vivenciar novas culturas, aprender a língua local e adquirir conhecimentos. É pós-graduada em Moda, Mídia e Inovação e seus destinos preferidos são “aqueles que enchem os olhos”, estimulando sua imaginação e seu intelecto. Para contar suas experiências, criou o blog Alto Baixo Bélgica.
Ana Laura também é autora do texto “A Experiência de uma brasileira na Bélgica“, “Bruges” e “Bélgica: na mira do terrorismo“