Whitehall e Westminster, o essencial

Big Ben e o Parlamento

Whitehall

Whitehall é a via que começa na Trafalgar Square e segue até a Parliament Square, praça em torno da qual estão o Parlamento e a Abadia de Westminster. Seu nome deriva do antigo Whitehall Palace, enorme palácio real que lá existia, destruído por um incêndio no final do século XVII. Após o incidente a corte foi transferida para o St. James’s Palace e no espaço anteriormente ocupado pelo Whitehall Palace foram, pouco a pouco, erguidos edifícios para sediar ministérios e outros órgãos administrativos governamentais. Na Downing Street, uma travessa da Whitehall, há quase trezentos anos estão o lar e o gabinete de trabalho do primeiro-ministro britânico. Guardando as devidas proporções, Whitehall está para a Grã-Bretanha assim como Brasília está para o Brasil: é a sede do governo, onde se concentram seus ministérios e onde importantes decisões e providências são tomadas diariamente.

Whitehall e Westminster, London

Banqueting House • Abadia de Westminster • Casas do Parlamento e Big Ben • Tate Britain

Westminster

Já Westminster é o bairro londrino de maior apelo turístico, delimitado pela Trafalgar Square ao norte, a Vauxhall Bridge Road ao sul, o Tâmisa a leste e a Buckingham Palace Road a oeste. A importância de Westminster na história de Londres e até mesmo na definição do atual mapa da cidade é gigantesca, diretamente proporcional às chances de você voltar da capital inglesa com pelo menos uma foto do Big Ben na sua máquina digital.

Até o final do primeiro milênio, Londres se resumia à City of London, cidade murada que evoluiu a partir do acampamento romano de Londinium. Além dos muros da City só havia estradas, como a que levava a Oxford; vilarejos rurais; e, a oeste, na Thorney Island, uma ilha fluvial próxima à margem norte do Tâmisa, uma comunidade de monges beneditinos. Na primeira metade do século XI o rei Eduardo, o Confessor, ergueu um palácio nas imediações dessa ilha e transferiu sua corte para lá. Simultaneamente, ordenou a construção de uma abadia em que pudesse cumprir seus deveres de católico fervoroso sem ter que viajar todos os dias até a City. O mosteiro ficou conhecido como West Minster (numa tradução ao pé da letra, “Mosteiro do Oeste”), em contraposição à St. Paul’s na City of London, a leste, que desde o início do século VII monopolizava o culto religioso.

Em pouco tempo o termo Westminster passou a designar também o palácio real vizinho e suas imediações. A região, que já concentrava grande poder político nas mãos da coroa e dos monges, ficou ainda mais influente com a criação do Parlamento no século XIII, sacramentando definitivamente o perfil de Westminster como centro político e administrativo, características que mantém até hoje. Por sua vez, a City of London permaneceu sede da vida civil e financeira da cidade. E foi basicamente a partir da necessidade de abastecimento e de deslocamento entre esses dois grandes pólos que Londres se desenvolveu e começou a ganhar os contornos da megalópole que é hoje.

É bom lembrar que, na divisão administrativa atual de Londres, a chamada City of Westminster abrange área muito maior do que a do bairro de Westminster. Só para se ter uma ideia, até a região noroeste da Central London, próxima ao Regent’s Park e distante a vários quilômetros da Whitehall e do Parlamento, pertence à City of Westminster. Aqui tratamos exclusivamente do bairro de Westminster, que possui um perfil bastante influenciado pela presença dos edifícios governamentais de Whitehall, pela rotina de trabalho dos parlamentares (dos jornalistas e manifestantes também) e do trânsito quase ininterrupto de milhares de turistas de todas as nacionalidades que se possa imaginar.

Na porção leste do bairro, próxima ao Tâmisa e onde se concentram boa parte das atrações, não há muitos lugares onde se possa fazer uma refeição ou mesmo tomar um café. Hotéis também são raridade. Já nas regiões central e oeste de Westminster há edifícios residenciais, não há tantos turistas perambulando e o comércio é bem mais intenso, sobretudo nas imediações da Victoria Station. De todo modo, é um bairro para se visitar durante o dia, com quase nenhuma vida noturna.

A oeste e ao sul de Westminster estão os bairros de Belgravia e Pimlico que, embora não tenham apelo turístico, são localidades elegantes e possuem alguns hotéis e B&Bs.

Atrações

Banqueting House Quem caminha desavisadamente pela Whitehall, dominada por edifícios governamentais, mal se dá conta de que em meio a eles encontra-se preservada uma parte do palácio real que abrigou a corte inglesa por mais de um século e meio. O Whitehall Palace, projetado por Inigo Jones sob encomenda de Henrique VIII, foi o maior edifício da Europa até ser consumido pelas chamas em 1698. Inspirado no estilo do italiano Andrea Palladio, o palácio recebia inúmeras críticas por destoar da arquitetura inglesa de então. Poucos setores da gigantesca construção escaparam das chamas e acabaram sendo incorporados a outros edifícios, mas a Banqueting House, erguida em 1622 como um complemento de Whitehall, é a única parte do palácio que permaneceu intacta. Sua história está irremediavelmente relacionada à tensão entre monarquistas e parlamentaristas que estremeceu a Inglaterra do século XVII com uma sangrenta Guerra Civil. Em 1635 o rei Carlos I contratou o famoso pintor Rubens para decorar o teto do saguão principal da Banqueting House com afrescos que enalteciam o “direito divino” dos monarcas e glorificavam seu pai, Jaime I.

Capturado anos depois pelas tropas parlamentaristas, Carlos I foi decapitado em um cadafalso montado em frente ao edifício numa gélida manhã de janeiro de 1649, após um processo de impeachment rudimentar e para lá de parcial, sob os olhares curiosos da multidão. Para que não se confundissem eventuais tremores de frio com sinais de medo, o rei vestiu duas malhas. Muitos molharam seus lenços no sangue que escorreu do patíbulo como “recuerdo”; afinal, ao menos em tese, era sangue azul! A Banqueting House foi usada para recepções, banquetes e bailes mas, a fim de que a fumaça das velas não estragasse os afrescos de Rubens, eventos noturnos deixaram de ser realizados lá (pelo menos até o advento da energia elétrica). Ainda hoje o edifício é utilizado em cerimônias de Estado, razão pela qual pode estar eventualmente fechado ao público. <end./> Whitehall, entre Horseguards Ave e Downing St, à esquerda de quem vem da Trafalgar Sq <comp./> www.hrp.org.uk/banquetinghouse

Downing Street Nessa travessinha da Whitehall fica um dos endereços mais famosos do mundo: desde 1732, o nº 10 abriga a residência oficial do primeiro-ministro britânico, cargo que concentra boa parcela do poder político “em circulação”, por assim dizer. Como ocorre com quase todas as atrações londrinas, por trás desta há uma história interessante. Na década de 1680, depois de ser o segundo aluno a se formar na então recém-inaugurada Harvard, nos EUA, George Downing retornou à Inglaterra e, com visão de um verdadeiro incorporador, construiu um conjunto de casas próximo ao Parlamento.

O empreendimento acabou caindo nas mãos da coroa anos mais tarde, até que o rei Charles II presenteou Robert Walpole, estreante no cargo de primeiro-ministro, com o imóvel do nº 10. Walpole aceitou, mas não em nome próprio e sim em razão de seu cargo, fixando por lá sua residência e seu gabinete de trabalho, a exemplo de praticamente todos os seus sucessores. Para nós, reles turistas, não há muito o que se ver, principalmente depois da instalação dos portões de ferro fechando a entrada da rua, no final dos anos 1980, quando a relação entre Margaret Thatcher e o IRA andava, digamos, explosiva. Em 1991, já no mandato do também conservador John Major, um morteiro disparado pelo grupo paramilitar irlandês atingiu os jardins da 10 Downing Street e, a partir de então, a vigilância no local tornou-se ainda mais intensa. Hoje, com o ângulo de visão que se tem dos portões, é impossível ver a fachada do imóvel. No máximo, com muita “sorte”, você conseguirá ver o primeiro-ministro ou outra autoridade passando a dezenas de metros de distância. Todos os demais edifícios da Downing Street abrigam escritórios e residências oficiais do governo britânico. <comp./> www.number10.gov.uk

Cenotaph Alguns metros depois da Downing Street, bem no meio da Whitehall, há um cenotáfio erguido em 1919 para homenagear os mortos da Primeira Guerra Mundial, encerrada um ano antes. Originalmente de madeira e gesso, o discretíssimo monumento projetado por Edwin Lutyens, que só conta com a inscrição “The Glorious Dead”, foi reconstruído em pedra no ano seguinte em atenção ao apelo popular. No domingo mais próximo ao dia 11 de novembro, denominado Remembrance Sunday, ocorre uma cerimônia com participação das forças armadas e da rainha em que se comemora o armistício ocorrido naquela mesma data, em 1918. <end./> Whitehall, entre a Downing St. e a King Charles St.

Abadia de Westminster (Westminster Abbey) A história e a cultura britânicas são resultado, em grande parte, da complexa dinâmica estabelecida ao longo dos milênios entre Coroa e Igreja. Durante o maior trecho deste longo e sinuoso percurso, a Abadia de Westminster não somente esteve presente como foi protagonista de eventos marcantes, como coroações, casamentos e funerais da realeza. Alguns dos monarcas, aliás, estão sepultados na própria igreja, que tem dimensões e status de catedral, mas tecnicamente é um “Royal Peculiar”, ou seja, um templo que não está sujeito ao controle de nenhuma diocese, e sim da coroa britânica.

Túmulos e homenagens a filósofos, estadistas, escritores e até artistas também podem ser encontrados no interior da abadia, cuja história remonta ao início do século XII, quando a primeira igreja teria sido erguida no local. No final do primeiro milênio, monges beneditinos se instalaram na região. Pouco depois, o rei Eduardo, o Confessor, ordenou a construção de uma abadia, na qual viria a ser enterrado em 1066. Um ano mais tarde, Guilherme I foi coroado na igreja, dando início à tradição que se mantém até hoje: todo monarca, desde então, é coroado na Abadia de Westminster. Mas foi somente no reinado de Henrique III, no século XIII, que a arquitetura da abadia começou a ganhar parte dos contornos góticos que a tornaram mundialmente famosa, como a fachada norte que dá para a Parliament Square, com seu belíssimo vitral. Nos séculos seguintes, foi objeto de diversas outras reformas, tanto exteriores quanto interiores.

A entrada a oeste, com acesso pela Victoria Street, ganhou duas imponentes torres em 1745. Embora muitos atribuam o seu projeto ao badalado arquiteto Christopher Wren, na verdade foram desenhadas por um de seus pupilos, Nicholas Hawksmoor. De lá para cá pouca coisa mudou, exceto por algumas restaurações e pelo fato de a abadia ter assumido sua vocação turística, passando a cobrar ingresso dos visitantes. A entrada é pela face norte, onde geralmente se forma uma fila considerável de turistas. Chegar cedo, minutos antes da abertura das bilheterias, costuma tornar a espera menor ou, com muita sorte, mínima. Uma vez no interior da abadia, pegue um mapinha no balcão de informações e siga o percurso pré-definido a ser obedecido pelos visitantes a fim de evitar tumultos. Seria necessário um capítulo à parte para esmiuçar todos os detalhes que este templo quase milenar abriga, mas alguns deles não podem passar em branco.

No chamado transepto norte, onde o trajeto inicia, há estátuas em mármore de Benjamin Disreali e William Gladstone, arquirrivais que se alternaram no cargo de primeiro-ministro na era vitoriana, ironicamente dispostas lado a lado (o primeiro está sepultado sob sua imagem). Perto dali, a incrível escultura em mármore de autoria do francês Roubiliac que retrata a morte de Lady Elizabeth Nightingale, falecida em 1731 vítima de complicações causadas por um aborto. A morte “em pessoa”, representada por um esqueleto, aponta sua lança fatal para a dama já debilitada nos braços do marido desesperado. Atrás do altar principal, rodeado de capelas em homenagem a diversos santos, como São Paulo e São João Batista, está a capela que abriga o túmulo do rei Eduardo, o Confessor, ali sepultado há quase um milênio. Um pouco mais à frente está um dos assentos mais disputados do mundo desde o século XIII, quando foi confeccionado: a Coronation Chair. Para acomodar os fundilhos nela e receber a coroa inglesa, muitos tiveram que guerrear, trair e assassinar.

Na porção leste da abadia está a belíssima capela dedicada a Henrique VII, ícone da arquitetura gótica britânica e onde estão sepultados o próprio monarca, sua esposa Elizabeth de York, a rainha Elizabeth I e sua meia-irmã “Bloody” Mary I, além dos restos mortais de dois jovens, possivelmente os príncipes Eduardo e Ricardo, herdeiros do trono desaparecidos sob a custódia de Ricardo III em 1483. Mary Stuart, rainha escocesa que foi mantida encarcerada durante quase duas décadas por Elizabeth I e, acusada de tramar o seu assassinato, acabou sendo decapitada, também está sepultada na capela de Henrique VII, do lado oposto ao túmulo de sua algoz. No transepto sul há uma área dedicada exclusivamente a poetas e escritores, denominada Poet’s Corner. Charles Dickens e Samuel Johnson, por exemplo, estão efetivamente enterrados na abadia, enquanto outros, como Shakespeare, são homenageados com estátuas. Lord Byron e Oscar Wilde, ambos de hábitos pouco religiosos, foram lembrados apenas com placas.

A nave, construída entre 1376 e 1517, abriga o órgão um dia tocado por Henry Purcell e os assentos do coral da abadia, bem como as sepulturas de Isaac Newton, do lendário explorador David Livingstone e de Charles Darwin, muito embora as teorias evolucionistas deste último sempre tenham desagradado a Igreja. Ainda há, na abadia, os Claustros, onde os monges oravam e meditavam; a Chapter House, utilizada para tratar dos assuntos cotidianos do mosteiro, que sediou debates dos parlamentares da Casa dos Comuns até a mudança para o Palácio de Westminster; e a Pyx Chamber, onde moedas eram guardadas para servir de padrão de autenticidade na comparação com outros exemplares. No museu, hospedado numa cripta que faz parte da construção original da abadia, estão expostas efígies utilizadas nos funerais de reis e rainhas, entre outras relíquias medievais.  20 Dean’s Yard SW1P 3PA. Entrada pela face norte, que dá para Parliament Sq.  www.westminster-abbey.org

St. Margaret’s Church Muitos turistas que aguardam na fila para entrar na Abadia de Westminster ignoram solenemente que a construção à esquerda em estilo Tudor também é uma igreja. Sua história curiosa justifica uma visita rápida, que não tomará além de alguns minutos. Foi fundada no século XI pelos monges da Abadia de Westminster, cujos rituais diários extremamente rígidos eram perturbados pela presença dos fiéis. St. Margaret’s nasceu, portanto, para que a comunidade de Westminster fizesse nela as suas orações e, assim, não atrapalhasse o divino ofício dos monges beneditinos que viviam na abadia.

No final do século XV iniciou-se uma grande reforma (quase uma reconstrução, na verdade) que deixou a igreja com a aparência atual, embora diversas restaurações tenham ocorrido nesse ínterim. O vitral sobre o altar foi encomendado para festejar o casamento de Henrique VIII e Catarina de Aragão, aquele cuja dissolução mudaria para sempre os rumos da história inglesa. Casaram-se na St. Margaret’s, entre outros ilustres personagens britânicos, Shakespeare e Churchill. A igreja é reconhecida como a paróquia da Casa dos Comuns desde 1614, quando todos os parlamentares que a integravam lá comungaram, ritual que continuaram obedecendo anualmente por quase cinquenta anos.  St. Margaret St SW1P 3JX  www.westminster-abbey.org/st-margarets

Casas do Parlamento e Big Ben O Parlamento do Reino Unido, um dos mais belos edifícios do mundo, é parada obrigatória no roteiro de qualquer um que visite Londres, por uma série de motivos. Além de ser ícone da arquitetura vitoriana, o principal cartão-postal londrino e abrigar parte de um dos mais antigos palácios reais, também é o precursor de praticamente todos os parlamentos que existem pelo mundo afora, sem os quais a democracia moderna, tão valorizada nos países que já atravessaram longos períodos de ditadura como o Brasil, não existiria. O órgão tem origem nos conselhos que rodeavam os monarcas ingleses durante a Idade Média, mais para reforçar a autoridade da decisão real a ser imposta à população do que para aconselhá-los propriamente.

Esses conselhos, originalmente formados por nobres e pelo alto clero, deixaram de ter um papel meramente figurativo durante o reinado de João Sem Terra, principal vilão da fábula de Robin Hood e usurpador do trono na ausência de seu irmão Ricardo Coração de Leão, que havia se aventurado nas Cruzadas. Os mandos e desmandos de João Sem Terra resultaram na promulgação da Magna Carta em 1215, primeiro documento na história da humanidade em que um rei reconheceu a existência de limites aos seu poderes, até então, absolutos. A partir de então, todos os reis ingleses passaram a ter que observar, ao menos em tese, certos procedimentos e normas em suas condutas – um marco importantíssimo na tutela dos direitos e liberdades individuais. Foi naquela época, por exemplo, que nasceu o instituto jurídico do habeas corpus, tão utilizado até hoje no nosso cotidiano forense.

A sede do Parlamento sempre foi o Palácio de Westminster, nome oficial da imponente construção, muito embora o primeiro edifício com este nome erguido naquele local por Eduardo, o Confessor, na metade do século XI fosse muito mais modesto do que o atual. Durante o reinado de Eduardo III, no século XIV, o Parlamento adotou o sistema bicameral que vigora atualmente não somente na Inglaterra, como em vários outros países, inclusive o Brasil: a Casa dos Lordes, equivalente ao Senado, foi formada por clérigos e nobres, enquanto a Casa dos Comuns, que corresponde à Câmara dos Deputados, foi constituída por cavaleiros e burgueses. A primeira dividiu entre os séculos XIII e XVI o palácio com a corte real, até que Henrique VIII determinou a construção do Palácio de Whitehall e mudou-se de mala e cuia para lá.

A transferência da corte abriu espaço para que a Casa dos Comuns também passasse a funcionar no palácio, deixando de fazer suas reuniões na Chapter House da Abadia de Westminster. Em 1834 um incêndio realizou o que o católico Guy Fawkes e seus colegas terroristas haviam tentado em 1605 sem sucesso: pôr abaixo o Parlamento. Somente restou da construção original o chamado Westminster Hall, incorporado ao esplêndido edifício neogótico projetado por Charles Barry e seu assistente Augustus Pugin, que conta com quase cinco quilômetros de corredores, uma centena de escadas e mais de 1.000 cômodos. Tanto trabalho comprometeu seriamente a saúde de ambos: Pugin passou seus últimos dias no hospício de Bethlem e Barry faleceu logo após a conclusão da obra, em 1860. No extremo norte do palácio está a Clock Tower, torre que abriga em seu topo o relógio mais famoso do mundo, popularmente conhecido como Big Ben.

Na verdade o apelido não se refere à torre nem ao relógio, e sim ao sino de mais de treze toneladas que desde 1859 anuncia com pontualidade britânica as horas cheias. Suas badaladas podem ser ouvidas in loco, obviamente, ou em qualquer lugar do mundo, pois são transmitidas pela BBC. A origem do nome “Big Ben” é controversa. Se o sino foi instalado durante a gestão do corpulento Benjamin Hall, então ministro de obras públicas, na mesma época faleceu Benjamin Caunt, um dos melhores boxeadores peso-pesado britânicos do século XIX. Do lado oposto, a Victoria Tower enfeita o palácio, que pode ser apreciado em sua plenitude a partir da margem sul do Tâmisa, entre a Westminster Bridge e a Lambeth Bridge. Visitar o Parlamento é um programa para lá de interessante, pois pode-se conhecer o que sobrou do Palácio de Westminster original, apreciar as decorações e detalhes extremamente rebuscados cuja elaboração levaram Pugin ao hospício, além de acompanhar sessões de debates em ambas as casas. Em contrapartida, não é recomendável para idosos ou crianças, pois é preciso andar bastante e esperar em pé por diversas ocasiões, a começar pela fila na entrada.

Quem tiver especial interesse em como se dá a dinâmica entre o parlamento e o governo e compreender relativamente bem o inglês pode se programar para tentar assistir ao Question Time, ocasião semanal (toda quarta-feira a partir do meio-dia) em que o primeiro-ministro comparece ao Palácio de Westminster para ficar “na berlinda”, ou seja, responder cara a cara e sem rodeios às perguntas formuladas pelos parlamentares, principalmente de oposição. Tony Blair deve ter terríveis pesadelos até hoje com os constrangimentos que passou tentando justificar o apoio britânico a Bush na desastrosa Guerra do Iraque, que acabou lhe custando o cargo.

Como o acesso é restrito e são distribuídos ingressos prioritariamente a cidadãos britânicos, não há garantia de que um brasileiro consiga presenciar a sabatina que é motivo de inveja para nós, já que nossos governantes só se pronunciam quando querem, para os veículos de comunicação que lhes convêm e, quando o fazem, têm liberdade para se esquivar de perguntas inconvenientes. <end./> Palace of Westminster SW1 U Westminster. Tendo o passe, procure a entrada de visitantes, próxima à entrada St. Stephens. Chegue pelo menos 10 minutos antes do horário marcado. Sessões parlamentares nas galerias das Câmaras dos Lordes e dos Comuns. <comp./> www.parliament.uk

Jewel Tower e Victoria Tower Gardens Ao lado do Parlamento, mas em sua porção mais ao sul, oposta à Westminster Bridge, ainda há um resquício do Palácio de Westminster original. Trata-se da Jewel Tower, uma pequena torre erguida em 1365 para abrigar os tesouros do rei Eduardo III. É bom lembrar que lá não estão expostas as famosas joias da coroa britânica, que podem ser vistas na Torre de Londres. Nela funciona uma exposição bastante interessante que trata da história do Parlamento, especialmente recomendada para quem vai conhecer a Câmara dos Comuns na sequência. Também há uma exposição sobre a história da torre propriamente dita e outra sobre o Imperial Weights and Measures, órgão oficial de controle de pesos e medidas que funcionou no edifício entre as décadas de 1870 e 1930.

Atravessando a Abingdon Street em direção à Victoria Tower, o contraponto do Big Ben na rebuscada arquitetura do Parlamento, você chegará aos Victoria Tower Gardens, um agradabilíssimo parque cujo formato, coincidentemente, se assemelha ao da letra “V”. Além de toda paz e beleza que a maioria dos parques londrinos proporciona, neste há três atrações particulares: uma réplica da estátua Les Bourgeois de Calais, de Auguste Rodin; um memorial (Buxton Memorial Fountain) em homenagem à abolição da escravatura na Grã-Bretanha e suas colônias, ocorrida em 1834; e uma estátua de Emmeline Pankhurst (1858-1928), polêmica ativista política que dedicou a vida lutando pelos direitos das mulheres, especialmente ao sufrágio. <end./> Abingdon St, Parliament Sq SW1P 3JX <comp./> www.english-heritage.org.uk

Westminster Cathedral Apesar de enorme e bem localizada, esta catedral de arquitetura peculiar não recebe muitas visitas de turistas, talvez por ficar um pouco afastada das principais atrações de Westminster, na parte oeste do bairro, além da Vincent Square. No entanto, há mais de uma razão para incluí-la no seu roteiro, a começar por sua importância: é o maior templo da Igreja Católica Apostólica Romana na Inglaterra. Suas obras tiveram início em 1895, no mesmo local onde antes existiu um presídio, porém alguns acabamentos no interior da catedral nunca chegaram a ser concluídos por falta de verbas.

Provavelmente a maior parte dos recursos foi utilizada na aquisição do mármore de diversas cores que decora não apenas seus altares, mas praticamente toda a nave central. Dificilmente alguém terá a ousadia de criticar o emprego do dinheiro, pois o resultado obtido é maravilhoso. Mas é do lado de fora que a catedral mais se destaca, pois além de destoar de todos os outros edifícios londrinos com seu estilo neobizantino, a imponente construção assimétrica, toda em tijolos vermelhos intercalados com pedras de Portland, em nada se assemelha às igrejas que habitualmente vemos na Europa. A torre de mais de 80m de altura que abriga o sino da catedral e enfeita sua fachada pode ser visitada de elevador. A vista, especialmente quando o tempo está ajudando, é lindíssima e garante ótimas fotos. <end./> 1 Ashley Pl SW1P 1QW <comp./> www.westminstercathedral.org.uk

St. John’s Smith Square O belo edifício em estilo barroco que ocupa praticamente sozinho toda a Smith Square, erguido em 1728, por quase 200 anos abrigou a igreja de St. John. Seu projeto foi concebido pelo arquiteto Thomas Archer mas, segundo consta dos anais da História, a rainha Ana merece parte do crédito pelo resultado final. Em audiência com a soberana, antes de iniciar as obras, Archer indagou como ela gostaria que a igreja fosse. A resposta teria sido um mero chute no banquinho onde Ana apoiava os pés, acompanhado da exclamação: “Assim!”.

O arquiteto provavelmente agradeceu aos céus o fato de não haver nenhum objeto de design mais complexo por perto naquele momento e cumpriu a determinação real projetando quatro torres simétricas, uma em cada extremidade da construção, em alusão aos pés do tal banquinho. Por conta disso, a igreja ganhou o apelido de Footstool e uma arquitetura interessante. Durante um bombardeio em 1941, o edifício foi seriamente danificado e acabou sendo adquirido por uma entidade privada que o reformou obedecendo ao projeto original. Hoje, por sua excelente acústica, é utilizado para concorridos concertos de música clássica. Em sua cripta, um restaurante simples, mas charmoso, funciona no almoço e nas noites em que há apresentações musicais. <end./> Smith Sq SW1P 3HA <comp./> www.sjss.org.uk

Tate Britain Em 1897 Henry Tate, um bem sucedido empresário do ramo açucareiro, inaugurou quase às margens do Tâmisa, entre a Lambeth Bridge e a Vauxhall Bridge, a National Gallery of British Art. Seu edifício, construído especialmente para abrigar o melhor da arte britânica a partir do século XVI, ocupa a área onde antes existia o presídio de Millbank. O nome de batismo nunca pegou e a instituição ficou sendo conhecida como Tate Gallery, até que no final do século XX seu acervo ficou grande demais mesmo para o enorme edifício. Nasceu, então, a Tate Collection, uma incrível coleção de arte desmembrada em quatro museus: dois em Londres, um em Liverpool e outro em St. Ives, pequena cidade litorânea na Cornualha. Os museus londrinos são o Tate Modern, no bairro de Southwark, e o Tate Britain, antiga Tate Gallery, onde tudo começou. Apesar da separação, o acervo do Tate Britain continua sendo grande demais para ser todo exposto simultaneamente, de modo que há um constante rodízio das obras, na sua maioria quadros.

São centenas de telas assinadas por vários artistas, como Blake, Constable, Van Dyck, Hogarth, Reynolds e Waterhouse, retratando principalmente membros da corte, cenas do cotidiano e paisagens naturais. Impressionistas, pré-modernistas e modernistas dos séculos XIX e XX também marcam presença na coleção, como Matisse, Dalí, Picasso e Modigliani. As obras datadas do século XV ao XIX estão distribuídas entre as salas 1 a 15, enquanto aquelas produzidas a partir de 1900 encontram-se expostas nas salas 16 a 28. A ala Turner Collection é dedicada especialmente às obras do londrino Joseph M. W. Turner (1775-1851), um dos pintores mais importantes da Grã-Bretanha, mestre na arte de retratar paisagens e tido como um dos precursores do movimento impressionista, cujo vasto acervo de telas foi legado à nação britânica. Desde 1984 o Tate Britain organiza anualmente uma concorrida premiação denominada Turner Prize que movimenta os bastidores do mundo da arte britânica e é um prato cheio para críticos, humoristas e cartunistas.

Dezenas de artistas expõem seus trabalhos, geralmente esculturas polêmicas e instalações para lá de conceituais, mas chegam à fase final somente quatro, que recebem prêmios em dinheiro. Próximo à Manton Entrance, acesso ao museu pela Atterbury Street, funciona o Rex Whistler, um restaurante de comida típica britânica, como não poderia deixar de ser, num ambiente um pouco mais refinado do que seria necessário. Pode-se optar pelo café que funciona em frente e oferece alternativas mais em conta (e às vezes mais saborosas) para matar a fome. <end./> Millbank SW1P 4RG www.tate.org.uk

 

 

Compartilhe:

Booking.com

Mais sobre o assunto: