A história das missões jesuítas na Argentina
As Missões (misiones em espanhol) foram criadas pelos padres jesuítas na área que hoje corresponde fronteira entre o Estado brasileiro do Rio Grande do Sul e o território da Argentina. O objetivo era converter os índios guaranis ao cristianismo. Existiram mais de 60 missões – algumas com população entre 6 e 7 mil habitantes – às margens dos rios Paraná e Uruguai. Poucas delas, umas 30 apenas, foram para frente.
Acontece que os índios catequizados, parcialmente aculturados e convertidos, eram presas fáceis dos bandeirantes que procuravam mão-de-obra escrava. Os portugueses e, posteriormente, no século XVIII, também os bandeirantes, barbarizaram as missões. Provocaram, assim, a destruição de muitas delas e a morte ou a escravização de milhares de índios. Somente entre 1628 e 1631, mais de 60 mil índios foram capturados ou assassinados.
O sucesso das missões
Uma das razões do sucesso das reduções jesuítas foi justamente o medo que os índios tinham de serem escravizados. Foi por temerem os portugueses e os bandeirantes que os jesuítas passaram a utilizar uma arquitetura defensiva. Ao erguerem suas missões, faziam proteções com fossos e paliçadas. Em razão dos ataques, a Companhia de Jesus, instalada no Paraguai, conseguiu que a coroa espanhola autorizasse o treinamento militar dos guaranis. Foram criados até corpos de cavalaria, trabalho realizado por militares veteranos espanhóis. (Na realidade, a corte espanhola, mais preocupada com o avanço português em seus territórios, usou anteriormente os guaranis a seu serviço). Armados, esses índios, bons cavaleiros e guerreiros valentes, venceram as tropas portuguesas em 1641.
O começo do fim
Situadas entre os territórios pertencentes, na época, a Portugal e à Espanha, as Missões dificultaram a expansão portuguesa para o sul e sudoeste do território sul-americano. Foram apoiadas pela coroa espanhola durante o reinado de Felipe V, mas após sua morte a situação sofreu uma reviravolta. O começo do fim aconteceu com a subida ao trono espanhol de Fernando IV, casado com a rainha portuguesa Bárbara, da casa de Bragança, que tinha forte influência sobre o marido. Foi quando a Espanha aceitou discutir um acordo de limites com Portugal, assunto que era um constante problema na relação entre os dois países. Segundo o acordo, os portugueses cederiam determinados territórios aos espanhóis e, em troca, as áreas ocupadas pelas Missões passariam para o controle lusitano.
A guerra guarani
Apesar de o Tratado de Limites de Madri ter sido mediado pelo próprio papa, os jesuítas e os guaranis recusaram-se a aceitá-lo.
A recusa resultou na chamada Guerra Guarani. Os índios, vencidos pelas tropas coloniais em 1756, foram massacrados pela artilharia. Foi o fim das Missões e de uma utopia cristã-comunitária. Os jesuítas, por sua vez, foram declarados inimigos de Portugal pelo Marquês de Pombal em 1757 e acusados pelos espanhóis de terem instigado os motins de 1766. Em 1772, a ordem dos jesuítas foi extinta em Portugal.
As missões sobreviventes
As missões sobreviventes passaram a ser administradas pelas autoridades coloniais. Os jesuítas haviam respeitado a língua e a maioria dos costumes guaranis, mantendo-os isolados do contato com o homem branco. Entretanto, os espanhóis impuseram a obrigatoriedade do seu idioma e a integração forçada dos índios, o que foi um desastre. As comunidades tinham que arcar com os custos elevados da manutenção de administradores, na maioria das vezes incompetentes e que não conseguiam a mesma produtividade obtida pelos jesuítas.
Isso provocou a deserção em massa dos índios. Os homens em sua maioria terminaram como empregados domésticos ou trabalhadores rurais. As mulheres que continuaram nas missões passaram a coabitar com os espanhóis, acabando por contrair varíola e outras doenças do homem branco. Miscigenados e adotando sobrenomes hispânicos, os guaranis praticamente desapareceram. Foi o golpe final sofrido pela nação indígena, que teve um destino não muito diferente dos demais povos nativos nas Américas.
O que restou da obra dos jesuítas em solo argentino são ruínas de algumas das missões, declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1984.
As missões
San Ignacio Miní
A 66 km de Posadas. Abre diariamente das 7h às 19h. Pode-se ir de ônibus, carro ou em excursão. Se você tiver pouco tempo disponível, limite sua visita a San Ignacio Miní, a mais importante e melhor preservada das Misiones. Criada em 1609, teve suas ruínas restauradas no século XX. San Ignacio foi praticamente uma cidade, que contava com casas, oficinas e uma igreja que, por sorte, foi parcialmente conservada. Em San Ignacio Miní funciona o Centro de Interpretación Jesuítico-Guarani, que mostra como era a vida dos índios antes da destruição promovida pelas autoridades coloniais. No local há um museu com peças que pertenceram à missão. Informe-se sobre espetáculos de som e luz.
Santa Ana
A 44 km de Posadas pela Ruta 12. Quem for de ônibus descerá a 700m da entrada das ruínas. Fundada em 1633, em território que hoje pertence ao Rio Grande do Sul, a missão de Santa Ana transferiu-se para a Argentina em razão dos constantes ataques dos caçadores de índios. Ali funcionava um centro de metalurgia.
Nuestra Señora de Loreto
A 52 km de Posadas pela Ruta 12. Quem for de ônibus descerá a 700m da entrada das ruínas. Apesar de mais antigas, despertam menos interesse, já que se encontram bastante danificadas. No local funcionou um centro de imprensa.
Santa Maria La Mayor
A 11 km de Posadas pela ruta 2 a partir de San Javier. As construções cujas ruínas subsistiram datam de 1637, mas a Missão de Santa Maria é ainda mais antiga. Fundada em 1623 em outro local, foi transferida após vários ataques de bandeirantes.
Como ir
Para visitar as missões, o mais cômodo é hospedar-se em Posadas e alugar um carro ou contratar uma excursão, o que pode ser feito em agências locais. Pode-se, com algum trabalho e vontade de caminhar, visitar as ruínas das Missões por conta própria, de ônibus.
Onde se hospedar
Hospede-se em Posadas, capital da Província de Misiones, na fronteira com o Paraguai, uma cidade de porte médio para os padrões argentinos. Embora não tenha interesse turístico, é uma cidade agradável (se você evitar o verão!), de frente para o rio Paraná. Na Plaza 9 de Julio ficam a catedral e o edifício da sede de governo. Merecem uma olhada o Mercado Artesanal e o Museu del Hombre, com destaque para a sala jesuítico-guarani repleta de objetos, quadros e maquetas que nos ajudam a compreender como funcionavam as Missões.
Posadas tem boas opções de hospedagem e restaurantes.
É possível também dormir na aldeia de San Ignacio, onde estão as mais importantes ruínas missionárias.
Dica – Na Província de Missiones fica Puerto Iguazu, o lado argentino das cataratas, lindo como o lado brasileiro das quedas, mas diferente.
Mapa das Misiones
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