A vida em Londres durante a Idade Média
Por Lúcio Martins Rodrigues
O dia-a-dia dos londrinos da Idade Média não era muito diferente da vida que levavam os habitantes do meio urbano no resto da Europa. Nas
ruas, porcos e galinhas perambulavam em meio a toda sorte de dejetos. As casas mais pobres, geralmente térreas, eram compostas por um só
cômodo, que servia de sala, cozinha e quarto.
As moradias
Construídas de pedra, madeira e barro, ou do material que se tivesse à mão, muitas eram meras
choupanas com teto de palha que, em razão dos freqüentes incêndios, foi sendo pouco a pouco substituído pelo telhado de barro. O mobiliário se restringia a uma mesa, bancos e uma cama tosca, onde dormia toda a família. Janelas eram raras e pequenas. A ausência de chaminé fazia com que a fumaça da cozinha e da lareira escapasse por uma mera fenda no telhado. Portanto, o ambiente era escuro e constantemente esfumaçado.
Moradia, loja e atelier num mesmo espaço
Marceneiros, sapateiros e outros artesãos possuíam em suas casas um cômodo a mais, que cumpria ao mesmo tempo as funções de ateliê e loja. Quanto mais ricos fossem os proprietários, suas casas eram maiores, com mais cômodos, móveis e utensílios domésticos. Potes, panelas, facas e cerâmicas eram objetos de desejo. Faziam parte de inventários e eram disputados pelos herdeiros, que podiam brigar pela posse de uma mera panela de ferro. Nas residências dos abastados, dormia-se no sotão. Não era incomum que no mesmo dormitório houvesse várias camas.
A falta de privacidade
Quartos individuais eram raros. Até os nobres gostavam de dormir tendo na cama ao lado seus camareiros – encarregados de, durante a noite, esvaziar seu urinol… Nessas condições, a intimidade dos casais, principalmente dos menos favorecidos, era limitada pela constante presença de terceiros. Era na escuridão da noite e vestidos que marido e mulher podiam ter algum contato, que deveria ter por fim apenas a procriação.
A Peste Negra
As camas era altas para dificultar o acesso de ratos, comuns nas moradias, infestadas também de pulgas e carrapatos – o que contribuiu para que em 1349 a Peste Negra matasse metade da população londrina. Os colchões eram recheados de palha de aveia, restos de lã, penas ou plumas. Galinhas, porcos e outros animais de criação andavam livremente pelas casas, inclusive pelos dormitórios. Nos períodos de frio rigoroso, os bichos eram mantidos dentro das casas. Não existiam banheiros. Quando muito, em residências ricas, havia uma latrina que desembocava em uma fossa negra. Banhos mesmo eram raros. Lavava-se, no máximo, os pés, as mãos e o rosto.
Uma lenta evolução durante a Baixa Idade Média
Só na Baixa Idade Média as condições urbanas melhoraram um pouquinho e as casas começaram a ter alas separadas para os animais. Mas as pessoas continuaram a viver na promiscuidade e em condições de higiene que seriam, para o homem moderno, abomináveis.
O casamento
Até mesmo o casamento era bastante diferente dos padrões atuais. Entre os nobres, servia a diversos fins políticos, desde consolidar alianças até sabotar a força do inimigo. Guilherme, o Conquistador, por exemplo, arranjava uniões para suas primas e suas sobrinhas, encarregando-as de espionar seus próprios maridos e observar a fidelidade dos consortes a ele. Judith, uma de suas parentes, denunciou o esposo, um conde anglo-saxão que foi executado. Ela, é claro, declarou-se de luto… Mas nem sempre as esposas se voltavam contra o marido. Na maioria das situações preferiam apoiá-los, por afeição ou porque teriam mais a perder se não o fizessem. Afinal, a esposa repudiada poderia ser morta de forma cruel ou enviada para viver para sempre reclusa em um mosteiro. Há referências sobre cartas que guerreiros de Guilherme, o Conquistador, teriam recebido de suas esposas: ou voltavam logo para casa ou elas passariam a entregar-se a amantes. Verdadeiras ou falsas, as ameaças podem ter sido precursoras do slogan “Faça amor, não faça guerra”.
A preocupação dos guerreiros em terras distantes com a fidelidade das esposas
A fidelidade das esposas era uma grande preocupação dos que partiam para combates no continente ou para as Cruzadas, muitas vezes durante anos. O medo da traição feminina era menos por ciúmes do que pelo risco de um filho de outro homem tornar-se herdeiro do condado ou ducado da família. Sem falar na desonra que um adultério representaria se viesse a público. Um método de “fidelização” menos comum do que o imaginário popular apregoa mas que de fato existiu foi o cinto de castidade.
O complicado aparato, cuja chave era zelosamente guardada pelo marido em terras distantes, em tese impedia a mulher de manter relações (a não ser com um bom chaveiro!). O que funcionava mesmo era a sogra; morando no mesmo imóvel, na condição de super-matrona, era quem de fato controlava a família. Teorias ousadas afirmam que essa situação, assimilada pelo inconsciente coletivo feminino, fazem com que até hoje noras não queiram saber de morar com sogras…
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