O suntuário religioso mais famoso da Bolívia
Copacabana fica às margens do Lago Titicaca, a 3.840m de altitude. É a última cidade boliviana antes da fronteira com o Peru. Seu nome deriva de Qopaqhawana, ídolo cultuado no local antes dos incas. No período incaico, os cultos foram transferidos para as ilhas do Sol e da Lua e Copacabana transformou-se em um posto destinado a acolher peregrinos que visitavam as ilhas.
Mapa de Copacabana, na Bolívia
Com a dominação espanhola, o culto pagão deu lugar ao católico
Se antes o Sol e a Lua representavam o Inca e sua mãe, não foi difícil a adaptação que levou a população local a adorar Maria, mãe de Jesus. A presença da imagem da Virgem de Copacabana, entronizada em 2 de fevereiro de 1583, faz da pequena cidade uma espécie de Aparecida do Norte boliviana, que recebe gente de todo país, vinda para fazer pedidos à Virgem ou batizar seu carro. (Batizar um carro?! Leia mais adiante…).
Como ir
De ônibus
De La Paz, partindo da Plaza Sucre (160 km; 3h30/4h); no estreito de Tiquina, o veículo é embarcado em uma balsa. Há também ônibus da cidade peruana de Puno (145 km; 2h30/3h). As vans de agências de viagens locais, mais confortáveis e velozes, que partem de La Paz e Puno, são uma alternativa aos ônibus.
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Hospedagem
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Melhor época
Qualquer época. É sempre frio por causa da altitude, perto de 4.000 m. No verão (dezembro a fevereiro) chove mais.
Atrações turísticas
Além de centro de peregrinação, Copacabana é a “praia de La Paz”. Uma praia à beira de um lago, bem entendido. Quem está acostumado com o lindo litoral brasileiro vai franzir a testa. Mas mesmo que a “praia” da cidadezinha boliviana não tenha o charme tropical de sua homônima carioca, a paisagem é magnífica.
Curiosidade
A famosa praia de Copacabana do Rio de Janeiro deve seu nome à Virgem do lago boliviano, que teria sido evocada por marinheiros durante uma tempestade na costa brasileira, salvando-os de um naufrágio. (É caso de se pensar se a semelhança entre a Festa da Candelária, na Copacabana boliviana, e a festa brasileira de Iemanjá, ambas no dia 2 de fevereiro, é apenas mera coincidência).
Quase todo o comércio importante – sobretudo agências de viagens e restaurantes – fica na Av. 6 de Agosto, entre a Plaza 2 de Febrero, onde fica a catedral, e a Plaza Sucre, onde funciona o terminal rodoviário.
Catedral
Plaza 2 de Febrero. A construção com um toque andaluz, concluída em 1619, é uma das bonitas igrejas da Bolívia. O templo é famoso por abrigar a Virgem Morena, uma imagem de aproximadamente um metro de altura construída no século XVI, em madeira e argamassa, pelo mestiço Francisco Tito Yupanqui, que estudou em Potosí com mestres espanhóis. A imagem tem ligeiros traços índios e é paramentada com vestimentas de princesa inca. Ao longo dos anos, essa igreja tem recebido oferendas valiosas, como joias e peças de ouro, que constituem um verdadeiro tesouro, utilizado no passado por caudilhos, quando precisavam de fundos. Note que os índios, ao terminar suas oferendas, vão andando para trás, evitando dar as costas à Virgem. A imagem que você vê nas procissões é uma réplica; a original permanece no santuário. Na catedral funciona um museu.
Batismo dos carros
Uma das coisas mais inusitadas para se ver em Copacabana é o batismo dos carros em frente à catedral. Nos finais de semana, sobretudo aos sábados, por haver mais veículos sendo batizados, é mais interessante. Veículos de todo tipo, de fuscas a caminhões, são enfeitados com guirlandas de flores e abençoa-dos por um padre, que lhes asperge água benta enquanto os participantes comemoram com cerveja. Um verdadeiro show, cuja origem mescla catolicismo e antigos cultos nativos. De qualquer modo, à vista do estado de conservação de muitos veículos, da precariedade das estradas e do modo temerário de dirigir da população local, a benção não deixa de ser recomendável.
Ilhas do Sol e da Lua
Em hotéis ou agências de viagens espalhadas pela Av. 6 de Agosto podem ser contratadas excursões para as ilhas, de meio dia (um tanto cansativas, estilo rally), de um dia inteiro, ou com pernoite. Ir por conta própria não compensa. Você terá que contratar um barqueiro (dentre os vários que irão abordá-lo…), que não terá conhecimento suficiente para servir de guia durante o passeio e não lhe oferecerá a mesma estrutura que uma excursão. Leve boné e use protetor solar pois, embora faça frio, o sol é forte. Os amantes da fotografia terão oportunidade de conseguir boas imagens se passarem a noite na ilha, aproveitando o pôr e o nascer do sol. As duas ilhas conservam escadarias esculpidas na rocha e antigos muros.
Na Ilha do Sol ficam a fonte sagrada ou Fonte del Inca (que, segundo dizem, era a tão procurada “fonte da juventude”); as ruínas de Chinkana, um labirinto de passagens e cômodos; a Pedra do Puma, onde eram realizados sacrifícios (na maioria das vezes de lhamas, mas também de seres humanos); o Templo do Sol; e o Palácio del Inca.
Na Ilha da Lua, fica o Palácio das Virgens do Sol.
Monte do Calvário
A subida até o alto da colina é uma penitência praticada por multidões na Sexta Santa. Ao encará-la, você sentirá que o nome “Calvário” é muito apropriado. Se você não tiver nenhum pecado cabeludo a pagar, suba devagar e lembre-se que está a 4.000m acima do nível do mar. Uma xícara de mate de coca antes e outra depois pode ser uma boa idéia. A vista panorâmica do alto é espetacular; não esqueça a máquina fotográfica (mesmo porque você não terá coragem de voltar para buscá-la!).
Observatório Astronômico de Copacabana (Horca del Inca)
Esse conjunto de monolitos pré-incaicos é formado por duas colunas e uma viga lateral (a única que restou das sete inicialmente existentes). O inadequado nome Horca (forca) foi atribuído pelos primeiros espanhóis que ali estiveram, por força da conclusão apressada de que a estrutura de pedras, à vista de seu formato, servia para enforcar os desafetos do imperador inca. Na realidade, o conjunto, que provavelmente data de 1700 a 1800 a.C. (muito anterior, portanto, aos incas), era destinado a observações astronômicas do solstício de inverno, dos ciclos lunares e de eclipses, e serviam para a organização do calendário agrícola, auxiliando na definição das épocas de plantio. Do alto tem-se vista panorâmica dos arredores.
Intikala
(Tribunal del Inca) Fica numa colina na saída para o estreito de Tiquina e para a capital boliviana. É um conjunto de gigantescas pedras com entalhes em forma de “assentos” destinados a servir como pedestais para ídolos. O nome Tribunal del Inca foi atribuído pelos espanhóis que, mais uma vez equivocadamente, e talvez influenciados pelo clima da Inquisição, concluíram (já que a “forca” ficava por ali) que aquilo deveria ser um tribunal. No local, tem-se linda vista do lago.
Kusijata – (Baño del Inca)
A 2 km de Copacabana. Terraços pré-colombianos levam a um casarão, sede de uma fazenda. Junto dela está uma fonte esculpida na pedra, onde flui a água saída das entranhas da montanha. O nome, dado pelos espanhóis, não autoriza a acreditar que o Inca tomasse banho ali…
Dicas
A fronteira entre Bolívia e Peru
É possível cruzar a fronteira entre Peru e Bolívia via Copacabana ou via Desaguadero. Em ambas fronteiras a polícia está especialmente atenta a possíveis traficantes e a jovens mochileiros que se vestem de modo muito descontraído. Fique esperto também com novas amizades.
Fique particularmente atento à sua carteira, sobretudo durante as festas, quando a cidade está lotada. Atenção à sua bagagem ao tomar ou descer do ônibus.
Evite chegar aos sábados, quando há grande concentração de romeiros
E lembre-se de que na época da concorrida Festa da Candelária os hotéis lotam e os preços disparam. O mesmo ocorre em 5 de agosto, quando a Virgem é adorada como padroeira da Bolívia, e o feriado se junta ao de 6 de agosto, dia pátrio; e em 17 de novembro, data em que tradicionalmente acorrem a Copacabana mineiros e camponeses.