Torre de Londres: uma fortaleza com muitas histórias
A Tower of London, na margem norte do Tâmisa, bem ao lado da Tower Bridge, está uma das principais atrações turísticas de Londres, merecedora de no mínimo uma visita por qualquer pessoa que pretenda conhecer o essencial da cidade e de sua história. A construção era originalmente apenas uma torre de observação erguida no ano de 1078 por Guilherme, o Conquistador, em um dos raros pontos mais elevados da região, utilizada para avistar com a maior antecedência possível a eventual chegada de vikings pelo rio.
Entre os séculos XI e XIV praticamente todos os reis, dentre eles o folclórico Ricardo Coração de Leão, investiram na expansão e fortificação do edifício, protegendo-o com muralhas e fossos, até que se transformasse no forte medieval que é ainda hoje, um dos mais bem conservados de toda da Grã-Bretanha, bem no centro da capital inglesa. Ao longo desses quase mil anos de existência, contudo, a Torre de Londres teve outros usos além de observatório e residência real.
Funcionou como cárcere para prisioneiros vips, como Henrique VI, os jovens príncipes Eduardo V e seu irmão Ricardo, Thomas More, Guy Fawkes e Walter Raleigh. Foi palco de inúmeras execuções de “traidores da coroa” e de sessões de tortura. Abrigou arsenais militares, um zoológico cujos animais acabaram sendo transferidos para o London Zoo e uma oficina onde moedas com a efígie do monarca no poder eram cunhadas. E ainda, desde 1327, guarda as mundialmente famosas joias da coroa britânica.
Graças à grande quantidade de mortes e de sofrimento que as grossas paredes do forte já presenciaram (e principalmente à imaginação fértil de muita gente), a Torre de Londres é considerada um dos locais mais mal-assombrados do planeta; há dezenas de relatos de aparições de almas penadas e afins em seus cômodos, torres e muralhas, cenários perfeitos para um episódio de Scooby Doo. Se de fato algum dia houve fantasmas vagando por lá, já devem ter se mudado para outras freguesias. Afinal, com quase dois milhões de turistas visitando a torre anualmente, não há assombração que dê conta! independentes, veja a seguir os principais pontos de interesse do complexo e organize seu roteiro.
Bell Tower e Water Lane Depois de atravessar o antigo fosso, você passará sob a Byward Tower e entrará no Outer Ward, área compreendida entre os muros externos e internos da fortificação. Logo à esquerda está a Bell Tower, construída no final do século XII, cujos sinos anunciavam as execuções dos prisioneiros. Thomas More foi mantido encarcerado por mais de um ano na Bell Tower até ser decapitado em julho de 1535, por ordem de Henrique VIII. O caminho entre os dois muros é chamado de Water Lane, pois dava acesso ao fosso e este, por sua vez, ao Tâmisa. Mais ou menos no meio da Water Lane há o chamado Traitor’s Gate (“Portão dos Traidores”), por onde os prisioneiros chegavam de barco e geralmente só voltavam a ver a luz do dia quando eram executados. Isso se tivessem “sorte”, pois muitos morriam nas sessões de tortura, vítimas de doenças ou simplesmente eram assassinados em suas celas. O portão faz parte da St. Thomas’s Tower, construída e utilizada por Eduardo I na segunda metade do século XIII. Seus aposentos foram cuidadosamente reconstituídos com mobílias e objetos de decoração da época.
Bloody Tower A torre, de nome bem sugestivo, fica logo em frente à St. Thomas’s Tower e através dela se tem acesso ao Inner Ward, o coração da fortificação. A peça Ricardo III de Shakespeare atribui ao monarca o assassinato de seus dois sobrinhos, filhos de Eduardo IV, que tinham treze e dez anos. Herdeiros do trono, foram levados à Bloody Tower em 1483 e nunca mais foram vistos com vida. Em 1647 foram encontradas duas ossadas de crianças enterradas próximas à torre e logo se presumiu tratar-se dos restos mortais dos inocentes príncipes, hoje sepultados na Abadia de Westminster.
White Tower Localizado bem no meio do forte, o maciço castelo de pedra é a evolução da torre erguida no final do século XI por Guilherme, o Conquistador, bem como o centro de todo o complexo conhecido como Torre de Londres. Henrique III ordenou a lavagem de toda sua fachada na metade do século XIII, fazendo com que o edifício passasse a ser conhecido como “torre branca”. Ainda há resquícios do fosso que circundava o castelo quando a White Tower não era protegida pelas duas muralhas.
As enormes janelas foram acrescidas somente no século XVII, pois até então tudo o que havia eram estreitas seteiras para atacar os inimigos que tentassem invadir o castelo. Lá estão expostas interessantíssimas coleções de armas e armaduras das mais diversas épocas. Quatro armaduras merecem especial atenção: a de Henrique VIII que, ao contrário do esbelto galã Jonathan Rhys Meyers, da série de TV Tudors, tinha uma senhora barriga; a de John of Gaunt, que media quase 2m; uma especialmente produzida para crianças; e a armadura de um shogun (chefe militar japonês) com que Jaime I foi presenteado. Também na White Tower está uma capela normanda dedicada a São João, toda em pedra, mantida exatamente como foi construída em 1080, na qual muitos pecados cabeludos devem ter sido confessados.
Quem gosta de curiosidades mórbidas vai se encantar com o execution block, tora de madeira maciça com uma cavidade especialmente recortada para acomodar a cabeça de quem estavam prestes a perdê-la, bem como um enorme machado, que poderia estar mais ou menos afiado de acordo com o grau de sofrimento que seria impingido ao executado. Muitos não morriam no primeiro golpe e suplicavam pelo segundo. Às vezes, até um terceiro golpe era necessário. A invenção do médico francês Joseph-Ignace Guillotin, concebida para “humanizar” as decapitações, tornando-as mais rápidas e menos dolorosas possível, surgiu apenas no final do século XVIII.
Tower Green Não se trata de um edifício, mas sim de um gramado a oeste da White Tower, onde a pouquíssimos condenados foi dado o privilégio de serem decapitados em um ritual discreto, praticamente sem plateia. A esmagadora maioria das execuções eram realizadas em Tower Hill, mais ou menos no mesmo local onde hoje existe a estação de metrô homônima, fora das muralhas da Torre de Londres. A população inteira se reunia para assistir ao “espetáculo”, ofender verbalmente o condenado e nele atirar frutas e legumes apodrecidos. Porém, alguns prisioneiros sentenciados à morte, além de não terem praticado crime algum, gozavam da simpatia popular, tornando uma execução pública em Tower Hill um risco desnecessário para a coroa. Em certos casos, a decapitação em Tower Green se deu por respeito a parentes do condenado e não por sua popularidade. Ao todo, somente sete pessoas receberam esta prerrogativa, dentre elas duas esposas de Henrique VIII: Ana Bolena, em 1536, e Catherine Howard, em 1542.
Jewel House Ao norte da White Tower encontra-se o edifício chamado Waterloo Barracks, facilmente identificado pela fachada decorada com duas torres e um relógio. Lá estão expostas ao público as joias da coroa britânica, provavelmente a principal atração da Torre de Londres, devidamente protegidas por espessos vidros, câmeras, guardas e modernos sistemas de segurança. Parte do trajeto que você percorrerá em meio a cetros, espadas, colares e coroas será sobre uma esteira rolante, instalada para evitar que alguns poucos visitantes “monopolizem” a visão das peças em detrimento dos demais. Isto significa, por outro lado, que para apreciar determinadas joias por mais tempo você terá que entrar na fila novamente e iniciar o percurso do início. São tantos itens expostos que há quem chegue a enjoar de ver pedras preciosas. Não deixe de apreciar o Royal Sceptre (cetro real), confeccionado para a coração de Carlos II em 1661 e decorado com um diamante de mais de 100g, chamado Great Star of Africa, um dos maiores do mundo, e a Imperial State Crown, coroa decorada com nada menos do que 2.868 diamantes, 273 pérolas, 17 safiras, 11 esmeraldas e 5 rubis, utilizada anualmente pela rainha na abertura das sessões do Parlamento.
Martin Tower Quem ainda tiver fôlego deve visitar a Martin Tower, à direita da Jewel House, onde estão expostas outras dezenas de coroas reais, porém sem as pedras preciosas originais ou adornadas com réplicas. Há também uma exposição relatando a mais famosa tentativa de roubo das joias da coroa, ocorrida em 1671, quando elas eram guardadas na Martin Tower. Thomas Blood e sua gangue elaboraram um intrincado plano para ludibriar o responsável pelas joias e ter acesso a elas. Já estavam fugindo, disfarçados de padres e com as peças mais valiosas escondidas embaixo do hábito, quando Beefeaters deram conta do crime e detiveram os gatunos. O mais inacreditável de toda a história, numa época em que, por muito menos, pessoas eram enforcadas, decapitadas, afogadas, queimadas ou esquartejadas, é Carlos II ter perdoado Blood e, mais do que isso, ter lhe dado de presente terras na Irlanda. O episódio gerou especulações, dentre elas a de que o próprio rei teria encomendado o roubo.
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