O vinho é uma das mais antigas — e gostosas — invenções do homem. Quase toda a Europa produz ótimos vinhos de diversos tipos, mas quando se ouve a palavra “vinho”, imediatamente se pensa na França. Não se concebe uma boa refeição na França sem um bom vinho. Ele não só faz parte da vida e da cultura dos franceses como sua produção é uma das mais importantes atividades econômicas do país. Ah, os vinhos franceses… Serão mesmo os melhores do mundo? Confira pessoalmente.
Apreciar vinhos não é só um prazer; é uma arte levada muito a sério pelos entendidos. Cada vinho é diferente e a diferença vai muito além da cor. Tem gente que diz: “Adoro vinho branco!” Bem, de qual branco você está falando? O assunto é bem mais complexo do que pode parecer aos leigos.
Entender de vinhos
Entender de vinhos é coisa de especialista. Mesmo que você não pretenda se tornar um deles, preste atenção no aroma e olhe a taça contra a luz para examinar a cor e a transparência da bebida antes de provar o vinho. Você começará a notar a diferença se começar a bebê-los regularmente. Não espere, entretanto (exceto se o seu olfato for privilegiado como o de um perdigueiro!), perceber facilmente algumas sutilezas quase poéticas que acompanham a descrição das qualidades de um vinho: “son bouquet intense développe de riches arômes de fruits, de fleurs ou d’épices” (“seu bouquet intenso desenvolve ricos aromas de frutas, de flores ou especiarias”). Talvez você não reconheça nenhum desses aromas!
Os vinhos podem ser brancos, rosés ou tintos, adocicados ou secos, espumantes ou não, ter o gosto mais pronunciado da uva (fruités), ser leves ou encorpados, novos ou maduros, ter dosagens alcoólicas variadas – em geral entre 8,5º e 16,5º GL, mas chegando até 20º GL (caso dos vinhos portugueses fortificados do Porto e da Madeira, dos Amarones italianos, Sherrys espanhóis e outros) e aromas e tons dos mais diversos.
Os vinhos varietais
Os elaborados com apenas uma variedade de uva são chamados varietais e nesse caso o tipo de uva dá nome ao produto: Riesling, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Merlot, etc. Com algumas exceções (os vinhos da Alsácia, por exemplo), na França a maioria dos vinhos resulta da combinação de diferentes variedades de uvas, ou seja, são não-varietais, também chamados de cortes ou blends.
A AOC
A AOC (denominação de origem controlada) é uma garantia para o consumidor. Os melhores AOC são os Grand Crus e os 1er Crus (os super-super vinhos!) título que é uma verdadeira honraria, concedida por decreto governamental.
Isso ajuda bastante os “amadores” como nós: se você não é nenhum connoisseur e quer ter certeza de que lhe servirão um vinho de qualidade no mínimo razoável, escolha um AOC (como por exemplo um Beaujolais, um Côtes-du-Rhône, um Bourgogne ou um Bordeaux…) e não correrá grande risco de errar. Além dos vinhos AOC, existem outros, chamados Vins Delimités de Qualité Supérieure ou VDQS, os melhores dentre os vins du pays. Estes, por sua vez, vinhos de produção local, podem ser eventualmente tão bons quanto os AOC mas, assim como os vins de table (vinhos de mesa), por não terem regras rígidas de produção, apresentam qualidade variável.
Os vinhos “velhos”
Os vinhos “velhos” (de safras mais antigas), que podem adquirir coloração ligeiramente marrom, devem ser abertos aproximadamente meia hora, ou até mais, antes de serem consumidos, para “respirar” e assim liberar aromas e paladares guardados há anos, quando em contato com o oxigênio. Já reparou que alguns vinhos soltam “bolhinhas” quando são abertos? Não os prove antes delas terem sumido completamente. Mas, por favor, não faça isso com o champagne e outros espumantes (mousseux e crémants)! Isso só vale para os tintos.
As surpresas
Cuidado com os vins du pays e os vins de table: você compra uma garrafa de uma determinada marca e acha uma delícia. No dia seguinte, achando que descobriu o caminho da mina (porque, afinal de contas, o vin de table é barato!), resolve comprar uma caixa inteira e pode se decepcionar! Os vinhos de fabricação local, sem conservantes, em geral não resistem muito bem ao transporte.
Embora você possa encontrar uma boa variedade de bons vinhos nos mercados, o melhor lugar para comprar vinhos em Paris é nas lojas especializadas ou nas regiões produtoras de vinhos AOC
Principais regiões produtoras
Alsácia
Famosa por seus vinhos brancos, que devem ser tomados frios – mas não demasiadamente gelados! Não é demais lembrar que vinho não é cerveja e nenhum vinho deve ser “estupidamente gelado”. A maior parte dos brancos da Alsácia são secos, leves e frutados (Riesling, Gewurtztraminer, Chasselas, Sylvaner, Pinot Blanc). O Pinot Gris ou Tokay d’Alsace é em geral mais encorpado, mais doce; o Gewurztraminer é ligeiramente picante. Todos eles acompanham bem peixes e frutos do mar. Há alguns vinhos diferentes: o Crémant, efervescente como um champagne, é um bom aperitivo; o Muscat, adocicado e bastante perfumado, acompanha muito bem certos queijos e sobremesas. O Pinot Noir é tinto, tem coloração de rubi e sabor e aroma frutados muito particulares. Uma delícia! Saiba mais sobre a Alsácia
Beaujolais
Sub-região da Bourgogne composta de várias cidadezinhas nas imediações de Beaujeu, acabou sendo conhecida como uma região vinícola própria, dada a peculiaridade de seus vinhos. A maioria dos vinhos Beaujolais são tintos, leves, frutados, feitos com a casta de uva de nome Gamay, particular à essa região, devem ser ligeiramente resfriados antes de serem servidos (uma exceção entre os tintos) e devem — ou podem — ser bebidos novos. Seu sabor é leve, sua cor é meio violácea e seu teor alcoólico não é muito alto, mas não é suco de uva, portanto, não exagere! Enfim, é um vinho eclético, tanto para acompanhar um prato leve quanto para tomar na beira do Sena vendo o pôr-do-sol com a namorada… (Ah, les romantiques!)
Os famosos Beaujolais Nouveaux são os mais comuns (Beaujolais, Beaujolais Supérieur, Beaujolais Village) e devem ser bebidos novos — se possível no mesmo ano de produção. Graças a um superesquema de marketing dos grandes produtores, quando a safra dos nouveaux está começando a ser distribuída, em fins de novembro, você vê em todo canto anúncios e outdoors que anunciam sua chegada, até mesmo no Brasil; assim ninguém esquece de bebê-los na época certa! O slogan “Le beaujolais nouveau est arrivé” (o beaujolais nouveau chegou) é uma alusão à primeira frase do hino nacional francês, a Marseillaise: “Allons enfants de la patrie, le jour de gloire est arrivé!” (o dia de glória chegou). Além dos AOC, existem Beaujolais Crus de excelente qualidade, e alguns podem ser envelhecidos, embora não por muitos anos.
Bordeaux
Considerada a região vinícola francesa por excelência, uma grande extensão de terra com grandes propriedades comandadas por pequenos e médios castelos, (os Chateaux),. A variedade de seus vinhos é tanta que é preciso estudar bastante para conhecer sua classificação; talvez nem mesmo os Bordelais (habitantes locais) a entendam! Para começar, existem sete tipos “gerais” de vinhos Bordeaux: os Bordeaux propriamente ditos, os Bordeaux Clairet, os Bordeaux Rosé, os Bordeaux supérieur, os Bordeaux supérieur clairet, os Bordeaux supérieur rosé e os Bordeaux mousseux.
Parece fácil até aqui? Depois temos a classificação por região: Saint-Émillion, Pomerol, Côtes-de-Fronsac, Médoc, Graves, Sauternes, Premières- Côtes-de-Bordeaux, Côtes-de-Castillon, Blayais, Côtes-de-Bourg etc. E há ainda a classificação por região e por título: “Saint-Émillion Premier Grand Cru Classé”. Os premiers grands crus classés Médoc foram selecionados por decreto governamental de 1885. São verdadeiras obras de arte engarrafadas: Château Lafitte-Rothschild, Château Mouton- Rothschild, Château Margaux, Château Latour, etc.
Curiosidades sobre os bordeaux
O curioso no caso dos grands crus das diversas sub-regiões produtoras é que no seu rótulo raramente consta a denominação bordeaux. Quem não é um expert em vinhos talvez não saiba que um Saint-Émillion ou um Médoc são, na verdade, bordeaux. Os melhores bordeaux exigem alguns anos de maturação para alcançar o auge de suas qualidades. Acompanham bem a boa cozinha regional. Há também bordeaux que podem ser tomados jovens, bem como ótimos brancos e também licorosos como os de Sauternes, elaborados com uvas botrytizadas (supermaduras, quase podres, afetadas pelo fungo necrotrófico de nome botrytis…), de alto teor de açúcar, perfeitos com alguns queijos ou para acompanhar a sobremesa. Muitos têm preços bem acessíveis. Mas se você é daqueles para quem dinheiro é o de menos, está em lua-de-mel ou simplesmente acha que merece, experimente alguns dos sublimes grands crus, como o famoso Chateau D’Yquem.
Bourgogne
(Borgonha) Uma das mais antigas regiões produtoras de vinhos da França, anterior à conquista romana. Os vinhos bourguignons são elaborados principalmente a partir de tres uvas: a chardonnay (às vezes também a aligoté) para os brancos, a pinot noir para os tintos e a gamay vai para os beaujolais (tintos menos nobres). A Bourgogne produz tintos encorpados que suportam bem o envelhecimento, crus de alto padrão, brancos finos e mesmo um crémant muito bom. A região é dividida em várias sub-regiões produtoras, dominadas por pequenas propriedades; dentre elas as mais importantes são: Cote de Nuits, Cote de Beaune, Chablis, Nuits St Georges, Beaujolais e Maconnais. Em Cote de Nuits produz-se alguns dos mais famosos vinhos tintos de todo o planeta Terra, principalmente em vinhedos próximos aos vilarejos de Gevrey Chambertin, Vosne Romanéee e Chambolle Musigny. Saiba mais sobre a Bourgogne
Estes são considerados os 5 melhores tintos da Bourgogne: Chambertin, Chambertin Clos de Béze, La Tache, Musigny e Romanée-Conti. Mas são muitos os grandes vinhos da região sendo que os tintos bourguignons acompanham bem pratos mais consistentes, sobretudo aqueles feitos com vinhos regionais, como o boeuf bourguignon, seguem mais alguns vinhos tintos famosos: Clos-de-la-Roche e Clos-Saint-Denis (ao redor de Morey St Denis), Clos-de-Vougeot, Corton, Les Amoureuses, Nuits St Georges, etc. Entre os brancos os 5 grandes são: Montrachet, Mersault Perriéres, Corton Charlemagne, Batard Montrachet e Chevalier Montrachet. Mas tem muitos outros de excelente qualidade como os Chassagne Montrachet, Puligny Montrachet, Mersault e diversos Chablis, ótimos para acompanhar ostras e mariscos.
Côtes-du-Rhône (margens do rio Rhône)
Uma das maiores e melhores regiões produtoras da França, oferece uma boa diversidade de vinhos, alguns mais maduros, outros leves e jovens, resultado da sábia composição de uvas diferentes, como Shiraz, Grenache, Mourvedre e Cinsault entre os tintos, ou Marsanne, Roussanne e Viognier entre os brancos. Há Côtes-du-Rhône tintos, brancos e espumantes. Alguns dos melhores e mais famosos tintos são das seguintes sub regiões: Chateauneuf du Pape, Cornas, Cote Rotie, Gigondas e Hermitage. Saiba mais sobre a Região de Côtes-du-Rhône
Há também excelentes bons vinhos brancos, como os famosos Ermitage do produtor Chapoutier (também na sub região Hermitage), feitos com a casta de uva Marsanne, tanto secos como doces, incomparáveis, ou mesmo os Chateauneuf du Pape brancos feitos à base de Roussanne, outra casta de uva francesa da região). Em termos de vinhos menos famosos (e caros) sugerimos os brancos Côte-de-Ventoux e o Coteaux-du-Tricastin, um ótimo rosé, o Tavel, e um mousseux, o Clairette de Die.
Champagne
Poucos sabem que o champagne é um vinho naturalmente gaseificado que começou a ser produzido na região de mesmo nome, no final do século XVII, por meio de uma técnica desenvolvida por um monge da Abadia de Hautvilliers. O nome Dom Pérignon lhe diz algo? Lenda ou verdade, conta-se que a região produzia antes vinhos tintos de qualidade média, que ao fermentar tornavam-se levemente gasosos. Isso era um grande inconveniente, pois os barris às vezes estouravam durante o transporte. Saiba mais sobre a Champagne
Estudando o problema, Dom Pérignon acabou chegando ao champagne… pelo que merece ser canonizado! Você já reparou que as garrafas de champagne são mais espessas e pesadas do que as dos demais vinhos? Isso é necessário para que as garrafas não estourem. O champagne é um vinho especial, deve ser servido gelado, vai super bem informalmente, como aperitivo, em refeições à base de frutos da água, ou até sozinho, e o seu significado simbólico, talvez pelo estouro da rolha, o torna quase obrigatório em qualquer grande ocasião.
Fora essas regiões acima descritas, podemos ainda destacar o Languedoc-Roussillon, a região de maior área plantada na França, onde se produzem excelentes e não tão conhecidos vinhos tintos e brancos, secos e doces, bem como o vale do rio Loire, dos lindos castelos, famosa por seus vinhos brancos Coteaux du Layon e Vouvray, à base da casta chenin blanc, secos, doces e mouelleux, e também a Cote de Provence, famosa por seus vinhos tintos e rosés de baixo custo, estes deliciosos para se tomar no verão em final de tarde.
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