A Quebrada de Humahuaca
Quem tiver disposição para fugir um pouco dos destinos mais conhecidos e passar uns dias na Quebrada de Humahuaca verá uma Argentina da qual poucos brasileiros ouviram falar e que nada tem a ver com Buenos Aires ou Bariloche. São lugares de montanha, de paisagem rude, com cactos gigantes, leitos de rios secos que, nas épocas de chuvas, se transformam em torrentes que descem com fúria das montanhas e paisagens grandiosas, com formações geológicas de cores e formas absolutamente incomuns.
A Quebrada de Humahuaca nada mais é que o estreito vale do Rio Grande, de 155 km de comprimento, que se estende em sentido sul-norte até a fronteira com a Bolívia. O rio, largo e de águas barrentas, permanece quase seco boa parte do ano.
A ocupação humana da Quebrada de Humahuaca
Há indícios de ocupação humana na região há pelo menos 11.000 anos, quando caçadores e coletores nômades fixaram-se ali e desenvolveram a agricultura. De 9.000 a. C. até 1480, quando foram submetidos aos incas, povos como os tilcaras, os humahuacas e os maimaras ocupavam a Quebrada. Desde a época dos incas o vale já era percorrido por caravanas que ligavam o Altiplano ao norte da Argentina. Em 1535, chegaram os espanhóis e com eles surgiram na região os primeiros povoados (“pueblos”) coloniais, coabitados pelos índios e pelos conquistadores. Os pueblos tinham inevitavelmente como centro uma igreja erguida defronte a uma praça retangular ou quadrada, como até hoje se vê. Por menor que fosse a aldeia, lá estava a Igreja Católica catequizando os nativos e tentando impor religião e costumes europeus.
El camiño real
Não foi tão bem sucedida, porém, em seu desiderato quanto em outros pontos da América. Durante o domínio espanhol a Quebrada tornou-se conhecida como Camiño Real, rota de escoamento da prata produzida em Potosí, na Bolívia, que seguia em lombo de mulas até Buenos Aires.
Com a independência dos países latino-americanos e o consequente fim da exportação de metais preciosos para a Espanha, o Camiño Real perdeu muito de sua importância e a Quebrada de Humahuaca tornou-se uma das zonas mais pobres da Argentina, onde a maior parte da população vive da agricultura de subsistência.
Felizmente, a Quebrada parece ter encontrado no turismo sua oportunidade, depois de ser declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2003 (para você não se esquecer disso, cada aldeia por onde você passa tem uma placa com essa informação!).
A infraestrutura turística
Beneficiada pelas excelentes estradas que levam ao Chile e à Bolívia, a infraestrutura turística melhorou muito recentemente, com a abertura de hotéis e restaurantes, a maioria deles inaugurada a partir de 2005. Embora alguns sejam estabelecimentos simples, outros são bem confortáveis: hotéis com padrão de Primeiro Mundo e restaurantes de gastronomia sofisticada. A região está sendo descoberta não só pelos argentinos de outras regiões, mas também por europeus, franceses principalmente. Infelizmente, com exceção de certos grupos de motoqueiros, os turistas brasileiros que visitam a Argentina continuam ignorando essa região de rara beleza.
Uma região de cultura índia
De cultura índia e com uso de idiomas nativos até hoje nas aldeias mais afastadas, a Quebrada lembra muito o Altiplano boliviano e peruano: aldeias com casinhas e igrejas de adobe e população de índios e mestiços vestindo roupas típicas de forte colorido.
Como ir
Avião
O aeroporto mais próximo é o de Jujuy, a 65 km de Purmamarca, onde chegam voos de Buenos Aires (2h30). A outra opção é Salta.
Ônibus
Há vários ônibus diários de Jujuy para Purmamarca (1h30), Tilcara (2h) e Humahuaca (3h), as cidades mais interessantes da Quebrada de Humahuaca. Alguns seguem até La Quiaca, na fronteira com a Bolívia. Se você for de ônibus para a Quebrada, procure se sentar do lado direito do veículo, de onde se tem as melhores vistas. Há ônibus também de Salta para La Quiaca e para as demais cidades da Quebrada. De Salta, a viagem demora 2h a mais do que se você tomar o ônibus em Jujuy.
Carro
O carro é a maneira ideal de visitar a região. Se você não estiver chegando do Brasil com veículo próprio, alugue um em Jujuy ou em Salta. Para ir de Jujuy à Quebrada, utilize a RN 9.
Mapa da Quebrada de Humahuaca
Como visitar a Quebrada de Humahuaca
Embora a Quebrada possa ser visitada de ônibus por aqueles que têm muito tempo, nem sempre os horários são cômodos e é possível que você fique horas “preso” em algum lugar. O carro lhe fornecerá a mobilidade necessária.
Vídeo sobre a Quebrada de Humahuaca
Pontos turísticos na Quebrada de Humahuaca
Purmamarca
A 65 km de Jujuy na RN 52 e a 3 da RN 9. A principal atração de Purmamarca (“Pueblo de la Tierra Virgen”), uma aldeia índia com casinhas brancas, é o Cerro de los Siete Colores, “cartão postal” da Quebrada. O impressionante colorido de seus paredões rochosos de diversos tons, com a predominância do vermelho e do ocre, é ainda mais vívido sob a luminosidade do sol da manhã. O Paseo de los Colorados, trilha de terra de aproximadamente 3 km que pode ser percorrida a pé ou de carro, é o melhor lugar para apreciar os deslumbrantes e variados tons dos morros. Não deixe também de ver a igreja do século XVIII e o mercado de artesanato que funciona diariamente na praça. À noite, durante a alta estação, alguns bares-restaurantes oferecem música regional ao vivo. Só isso quebra o silêncio das ruas desertas.
Tilcara
A 84 km de Jujuy pela R 9 e a 20 km de Purmamarca. A 2.400m de altitude, Tilcara é um dos principais centros da Quebrada, e também aquele que oferece mais opções de hospedagem e restaurantes. Mesmo assim, não se iluda: as ruas são de terra, as casas, de adobe, e a população, composta por gente simples. Na pracinha, como de costume, há uma bonita igreja colonial, mas a principal atração de Tilcara são as ruínas da Pucará de Tilcara, aldeia construída numa colina pelo povo que habitava a região. Adivinhe quem? Os tilcaras, claro. A Pucará foi em parte restaurada e visitando-a dá para ter uma boa ideia de como era antes da chegada dos espanhóis, com suas casas de pedra. Para visitar a Pucará (acessível de carro ou táxi a partir de Tilcara, ou mesmo a pé se você for bem disposto) é recomendável usar sapatos de sola não escorregadia. Na entrada, fica o inusitado Jardin Botánico de Altura, com curiosos espécimes da flora local: cactos de tudo quanto é tipo, que provavelmente você não verá em nenhum outro lugar. Na cidade, funciona um pequeno Museu Arqueológico (End. Belgrano, 445) com um bom acervo de peças pré-colombianas; um dos mais ricos da Argentina, no gênero. A 8 km do pueblo (para arriba!), fica a Garganta del Diablo, mini-desfiladeiro com uma cascata de 14m de altura. É possível chegar até lá a pé, pois o passeio é bonito e, na volta (para abajo), todo santo ajuda… O lugar também é acessível de automóvel, desde que não tenham caído barreiras e o motorista seja ultracuidadoso, pois a estrada é estreita e à beira de abismos – sem guardrail.
Maimará
A 75 km de Jujuy pela RN 9. O pequeno povoado é famoso porque ao lado dele fica a Paleta del Pintor, um paredão rochoso de formas coloridas e arredondadas, visível da estrada. O melhor horário para vê-lo é à tarde, quando está iluminado pelo sol. A cidadezinha em si não tem atrativos, exceto pelo fato de ser uma aldeia típica da região, mas na entrada existe um curiosíssimo cemitério índio-cristão na encosta de uma colina, onde se destaca uma placa com os dizeres: Bienvenidos a Maimará…
Humahuaca
A 127 km de Jujuy pela RN 9. Fundado pelos espanhóis em 1591, esse lugarejo a 40 km norte de Tilcara, a 3.000m de altitude, verdadeira “metrópole” da Quebrada, tem o nome da tribo que habitava o local. Tranquila, de ruas estreitas e calçadas de pedra, Humahuaca parece uma cidade perdida no tempo (ou, se você visitá-la durante o horário da sesta, uma cidade fantasma do Velho Oeste). A Catedral de Nuestra Señora de la Candelaria y San Antonio, considerada Monumento Histórico Nacional, data de 1641 e conserva no seu interior obras em madeira entalhada, como uma imagem da Virgem, e quadros como Os 12 profetas, obra de Marcos Sapaca, da Escuela Cusqueña. Mas o que mais se vê no interior da igreja não é madeira extraída de árvores, e sim lâminas de troncos de cactos (cardónes). Pudera, quantas árvores você viu no caminho?
Outra curiosidade é o Relógio del Cabildo, no Palacio Municipal da praça central da cidade. Diariamente, às 12h (sem muita precisão…), uma porta se abre na fachada do edifício, mostrando a imagem em tamanho natural de San Francisco Solano, que se move e abençoa os presentes. Uma pequena multidão de curiosos e turistas se reúne na praça esperando o acontecimento – o mais emocionante que você pode esperar nessa cidade. Quem pensa em pernoitar em Humahuaca pode aproveitar e visitar o Museo Folclórico Regional, um museu particular bem completo sobre os costumes e a vida das tribos que habitaram a região antes da chegada dos espanhóis. Seu acervo compreende cerâmicas, objetos da vida diária dos índios e instrumentos musicais. A visita, guiada pelo proprietário do museu, é bem interessante. Na Av. San Martín (que de avenida não tem nada…) funciona um mercado de artesanato. No ponto mais elevado da cidade encontra-se o Monumento à Independência, de bronze e pedra, de um gosto mais do que duvidoso (quando você vê pela primeira vez, fica se perguntando: “Que diabo é isso?”).
Uquía
A 120 km de Jujuy pela RN 9. A aldeia é minúscula, mas você se surpreenderá ao entrar na pequena igreja de San Francisco de Paula, erguida no século XVII, e deparar com um altar ricamente entalhado e recoberto por folhas de ouro. Explica-se: no passado, uma grande quantidade de prata passou pela região e muita gente ganhou dinheiro criando mulas para o transporte do metal que saía das minas bolivianas a caminho de Buenos Aires. O pequeno templo, todo branco por fora, foi erguido com adobe e suas paredes possuem um metro de espessura. Uma curiosidade: a torre é separada do conjunto. As paredes no interior da igreja são decoradas com interessantíssimos quadros no estilo cusqueño, representando arcanjos arcabuzeiros.
Conta-se que o artista, um nativo, a quem tinham sido encomendadas as pinturas, não tinha ideia do que vinha a ser um “arcanjo” e onde conseguir um modelo (você sabe, não é fácil encontrar arcanjos à solta por aí). Na falta de uma explicação melhor, disseram-lhe que arcanjos eram como os espanhóis, mas com asas… Como os conquistadores andavam armados, o artista mestiço retratou os arcanjos portando arcabuzes e vestindo roupas como aquelas utilizadas na época pelos colonizadores.
Festas
Na quebra da de Humahuaca há diversas festas regionais bem interessantes. Saiba mais sobre as Fiestas de la Quebrada de Humahuaca.
Passeios
Para aqueles dispostos a rodar mais cem ou duzentos quilômetros, há diversos passeios que podem ser feitos a partir da Quebrada de Humahuaca.
Onde comer na Quebrada de Humahuaca
Endereços de restaurantes nas principais localidades da Quebrada de Humahuaca.
Cruzando fronteiras
Para o Chile
Pelo noroeste argentino tem-se acesso, via RN 52, ao Chile, chegando a São Pedro do Atacama. Os que se ressentem dos efeitos da altitude devem se prevenir. Um bom trecho da estrada está situado numa altitude superior a 4.000m! Agasalhe-se bem, mesmo se for verão. É proibido entrar no Chile com frutas ou qualquer alimento fresco.
Em princípio, o Chile exige carteira internacional de habilitação, mas raramente ela é pedida. Se o carro for alugado, solicite a documentação apropriada para cruzar a fronteira. Há ônibus de Salta (12h30) e Jujuy (10 h) até São Pedro do Atacama, mas são poucas partidas semanais e a passagem deve ser reservada com alguns dias de antecedência. Depois de Purmamarca, o único lugar onde há gasolina, restaurante e hotel é em Susques. De lá até a fronteira são 125 km; da fronteira até San Pedro de Atacama, 175 km. De ambos os lados da fronteira, a estrada é boa e meio deserta. Cuidado com a presença de animais na estrada. Normalmente o posto de fronteira fecha às 23h mas, dependendo das condições meteorológicas, pode fechar mais cedo. Informe-se no PASTOS CHICOS se a passagem está aberta antes de seguir viagem.
Para a Bolívia
Ha ônibus de Jujuy e de localidades da Quebrada para La Quiaca, na fronteira. A cidade boliviana de Villazón é acessível por uma ponte internacional. De Villazón, há transporte para outras cidades da Bolívia.
Informações práticas
Onde se hospedar no Noroeste da Argentina
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