De maio de 1968 à Paris de hoje
A rebelião estudantil de maio de 1968 transferiu os antagonismos políticos para as ruas, radicalizando a queda de braço. Seus slogans tornaram-se símbolos dos valores da juventude nos anos 70: “Il est interdit d’interdire” (É proibido proibir), “L’imagination au pouvoir” (“A imaginação no poder”), “Aimez-vous les uns sur les autres” (“Amai-vos uns sobre os outros”) e coisas parecidas. Qual foi a causa do movimento? Quem ou o que os teria influenciado? Marcuse? Bakunin? Os Beatles? A Guerra do Vietnã? Não importa. Era mais uma questão de liberdade de expressão do que qualquer outra coisa.
Une certaine societé
O líder dos estudantes, Daniel Cohn-Bendit, traduziu bem o que estava acontecendo em 10 de maio de 1968, o dia mais agitado daquela conturbada primavera: “Ce qui se passe ce soir dans la rue est que toute une jeunesse s’exprime contre une certaine société” (“O que está acontecendo esta noite na rua é que toda uma juventude está se manifestando contra uma determinada sociedade”).
As barricadas
De paralelepípedos a coquetéis molotov, valeu tudo. Foram feitas quase 60 barricadas por todo o Quartier Latin, principalmente perto da Sorbonne, pelos alunos que queriam impedir que a universidade fosse tomada pela polícia.
No início, o movimento ganhou a simpatia de boa parte da população. Os moradores do bairro davam comida para os estudantes entrincheirados e jogavam água pela janela, para protegê-los, quando a polícia lançava gás lacrimogêneo. O movimento de maio de 68 abalou a França e paralisou sua capital, com reflexos em muitos cantos do mundo.
A revolta se torna interminável
Mas, apesar da simpatia inicial, o parisiense foi se cansando daquela revolta interminável, que não resultava em mudanças concretas. Os próprios operários, que conseguiram obter um polpudo aumento de salário, foram voltando ao trabalho. A aventura acabaria custando caro. Nas eleições seguintes, a esquerda, em particular o PCF, sofreu uma das piores derrotas eleitorais de sua história. Uma coalizão liderada pelo partido socialista só alcançou o poder em 1981, aplicando uma política bem moderada. Depois disso, socialistas e conservadores têm se alternado no governo.
Com a queda do muro de Berlim, enquanto o partido socialista se fortaleceu, o comunista perdeu muito terreno e hoje tem votação equivalente à da extrema direita francesa, comandada por Le Pen, forte no sul do país. De qualquer forma, o Estado de Direito e a democracia são a opção política da esmagadora maioria da população.
Paris se moderniza
Nas últimas décadas Paris se modernizou rapidamente sem perder seu charme. Bairros decadentes foram recuperados, como é o caso do Marais, cheio de construções históricas, hoje repleto de butiques, restaurantes e bares. Em Les Halles, o antigo mercado deu lugar a um shopping center e foi criado o moderníssimo Centre Georges Pompidou. Na Bastille, construiu-se a nova Opéra; na Rive Gauche, a antiga estação ferroviária de Orsay foi transformada em museu; em La Villette, na região noroeste da cidade, foram erguidas a Cité des Sciences e a Cité de la Musique. A oeste, já fora dos limites de Paris, surgiu La Défense, um bairro quase futurista. Grande parte das obras recentes da capital são parte dos Grands Travaux (grandes obras) planejados pelo presidente François Mitterrand, que dá nome à imensa e moderníssima biblioteca no bairro de Bercy.
Paris e a França de hoje
Depois de oscilar durante anos entre a esquerda e a direita, os parisienses entraram no século XXI inovando completamente ao eleger Bertrand Delanoë, um prefeito “verde”, ou seja, particularmente preocupado com o meio ambiente, e assumidamente homossexual.
No plano internacional, a França tem apostado suas fichas na integração europeia e adotou, como a maioria dos países da Europa, a moeda única: o euro.
Dica – Histoire et Dictionnaire de Paris, de Alfred Fierro (uma pena, ainda sem tradução em português), é um extraordinário e detalhado estudo sobre Paris, da Pré-História ao final do século XX.
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