Bélgica: a maior aventura da minha vida
por Ana Laura Visentini
Sempre sonhei viver um tempo no exterior conhecendo pessoas, culturas e estudando línguas, porém, nunca passou pela minha cabeça o quão rica poderia ser essa aventura. Conheci a Bélgica há alguns anos quando viajava de Paris a Amsterdam no verão europeu. Era julho, as temperaturas estavam elevadíssimas e muitos sites turísticos indicavam fazer uma paradinha na cidade antes de seguir até a Holanda. Após algum tempo viajando seguimos a dica e entramos em Bruxelas (Bruxelles). Nunca me esqueci daquela tarde. Hoje por inúmeras coincidências que a vida insiste em nos apresentar vivo aqui, nessa cidade belíssima que me abrigou e acolheu com tanto carinho, terra da cerveja, do chocolate e da batata frita.
Mapa da Bélgica
Flanando por Bruxelas
A arquitetura das casas, as inúmeras igrejas com suas construções imponentes, o centre-ville e a Grand Place são de uma beleza pouco vista, para mim é a melhor tradução estética do belo, uma obra de arte a céu aberto. Gosto de caminhar pela região do Palais Royal de Bruxelles (Palácio Real) em direção à Grand Place e sua imensa Torre, essa vista de diversos pontos da cidade, tamanha é sua imensidão. Posso optar por dois trajetos: o primeiro, descendo sempre em direção à Torre, me encaminho até o centre-ville, passando pela Biblioteca (Bibliothèque Royale de Belgique) e seu imenso jardim, em seguida pelos restaurantes e casinhas de waffle e batata-frita com seus inúmeros turistas e passantes, chegando ao ponto onde, ao lado esquerdo, encontro a Grand Place e, ao lado direito, a Galerie Royal Saint-Hubert. O segundo trajeto sigo a direção da rua e dos carros, desço o Palais Royal e antes de ir reto à Biblioteca, sigo pela direita acompanhando o trânsito, passando pela Place Charles Rogier onde está localizado o Hotel Hilton e a Estação Central da cidade e sigo mais duas quadras em direção à Igreja mais linda de Bruxelas, a Cathédrale Saints-Michel-et-Gudule, no alto de um gramado. Dali para a Grand Place é só olhar para o céu, agradecer pela bela visão da Torre e caminhar alguns metros até ela.
Os chocolates belgas
O país cheira a açúcar. Sim, exatamente! Há uma tradição muito forte pelos chocolates belgas, dizem que são os “melhores do mundo”, e a cada quadra é possível encontrar ao menos uma chocolaterie. São inúmeras as lojas e fábricas do produto em toda a Bélgica. Podemos nos perder por elas na Galeries Royal Saint-Hubert, uma tradicional galeria localizada no centre-ville da cidade, ao lado da Grand Place. Entre as chocolateries mais tradicionais posso citar a Godiva, a Léonidas, a Belgique Gourmande, a Corné Port Royal, a Neuhaus, a Méert e a Pierre Marcolini, todas elas deliciosas e referência em sabor e alta qualidade.
Mas o cheirinho doce característico não vem apenas dos chocolates, aqui há também a tradição do Waffle (ou goufre), uma simples massinha de farinha, açúcar e ovos que é prensada numa fôrma com relevo. A iguaria sai quentinha e dá a sensação de ter uma pequena camada caramelizada por fora. A boa dica é pedir o produto sem os inúmeros recheios de frutas, chocolate e chantilly, assim será possível sentir o sabor crocante.
Gastronomia
O prato típico dos belgas é uma mistura de frutos do mar e fritura. São as moules-frites. Mariscos cozidos na água acompanhados por muita batata-frita. É possível encontrá-lo em praticamente todos os restaurantes belgas e geralmente eles criam novas receitas com esses dois ingredientes. Realmente, tanto os mariscos quanto as batatas são muito saborosos e a apresentação do prato já vale o pedido. É uma pequena panelinha com a boca alta (casserole) onde ficam os mariscos com cascas e alguns temperos e iguarias, em volta ficam as batatas. Além da moule-frite, os belgas também mantêm a tradição da batata-frita, vendidas em quiosques e carrocinhas e servidas em cones de papelão, com diversos molhos como acompanhamentos. Todos feitos com maionese.
País da cerveja
E falando em sabor, é impossível não se entregar a todos que o país da cerveja oferece. São mais de mil tipos de cervejas produzidas aqui. Tem para todos os gostos, das mais fortes e envelhecidas às mais suaves, das trapistas produzidas em mosteiros por Monges Trapistas, às de produção em escala, mais fracas. Tem cerveja de chocolate, cerveja de framboesa, de pomelo, de mel. Filtradas ou com resíduos, doces, ácidas, brutas e azedas, cada uma a seu modo, conquistam turistas do mundo inteiro. É impossível em um ano experimentar todas as marcas, nem os belgas que vivem aqui desde o nascimento têm a real dimensão de todas as cervejas. É um desafio e tanto viver num país onde o líquido sagrado é oferecido a todo o momento em bares, mercados e feiras e por valores justos que cabem no bolso de qualquer cidadão. Nós brasileiros conhecemos algumas marcas que são vendidas no Brasil a preço de ouro, porém, quando estamos na Bélgica percebemos a maravilha da produção artesanal e a imensa quantidade de marcas para um país tão pequeno em área territorial, se comparado ao nosso. Apesar da concorrência, muitas delas existem há muitos anos e mantém sua tradição passando as receitas de geração em geração. Não se perdeu a qualidade, acredito até que ela tenha ganhado pontos com o passar dos anos.
País pequeno, mas encantador
A Bélgica é um país pequeno. Faz divisa com a França, com a Holanda, com o pequeno Luxemburgo e também com a Alemanha. Bruxelas é a maior cidade, entretanto, outras cidades graciosas também são tão interessantes quanto a capital. Falo de Gent e de Brugges, essas duas cidades me fizerem parar e pensar, por mais de uma vez. Suas construções medievais e suas casinhas construídas com pequenos tijolos coloridos nos levam de volta aos contos infantis, com seus personagens de bochechas vermelhas, fofinhos e alegres. Visitei duas vezes as duas cidades e percebi que a cada ida, minha percepção sobre a arquitetura do lugar será diferente, cada vez encontro novas formas estéticas e vejo que meus olhos estão ficando mais generosos. Mas provavelmente o lugar que mais mexeu com minha imaginação tenha sido o Bois de Hal (Hallerbos), uma floresta localizada na pequena cidade de Halle, há poucos quilômetros daqui, onde uma vez ao ano flores “azuis” ou bluebells florescem por um curto período, em média dez dias, pintando o chão da floresta da linda cor . Fiz a visita em maio, as orientações foram indicadas no próprio site da floresta, e posso dizer que a experiência que presenciei foi magnífica, singela, inesquecível e a levarei na memória.
Antuérpia
Além da capital e das cidadezinhas encantadas do país, existe também a cidade portuária, capital mundial dos diamantes, polo de reconhecidas escolas de moda e de grandes criadores: Antuérpia. Foi a cidade em que viveu Rubens (Peter Paul Rubens), pintor flamengo de estilo barroco, famoso por suas obras extravagantes que traduziam movimento, cor e sensualidade. Além da grandiosa arquitetura, característica em toda a Bélgica, na cidade é possível visitar a casa em que o pintor morou. Para quem gosta de comércio e badalação, há muitos redutos de lojas e vitrines do tão sonhado diamante. Infelizmente eles são inacessíveis ao bolso, mas vale encher os olhos com o delicado design.
Bruxelas, capital cosmopolita
Já imaginou viver num lugar aberto a diferentes culturas? Eu me apaixono todos os dias por Bruxelas. Cidade cosmopolita, livre, capital da Bélgica e da Europa, sede da União Europeia e da Otan. Aqui é possível viver diferentes culturas sem sair do país. A cidade é bilíngue e suas línguas oficiais são o francês e o neerlandês por isso as placas e as informações sempre são escritas nesses dois idiomas. Ainda o inglês é bastante falado também, em especial as empresas contratam profissionais que dominem esse idioma. Como muitas pessoas vêm trabalhar no país é possível identificar outras línguas pelas ruas. O italiano, o espanhol e também o português são frequentemente falados na cidade, que abriga também fortes comunidades congolesas, marroquinas e árabes.
“Algumas horas” apenas na Bélgica… estão brincando!
Hoje, quando leio dicas de sites para parar por algumas horas na Bélgica, vejo que os turistas perdem em viver essa experiência por tão pouco tempo. Já estou no país por mais de três meses e vejo que ainda falta muito para conhecer. Foram essas poucas horas que me fizeram planejar morar aqui, a impressão que tive naquela tarde foi surreal. A chegada à Grand Place, a primeira cerveja de framboesa da minha vida, o caminho feito pelas chocolateries e a experiência de provar o melhor chocolate do mundo. Agradeço por aquelas horinhas “perdidas”. Nelas encontrei um sentido para planejar um projeto de curto prazo. Viver dez anos de rica experiência em apenas um ano, morando aqui.
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Sobre a autora da matéria
Ana Laura, uma moça de espírito aventureiro, mudou-se para a Bélgica para vivenciar novas culturas, aprender a língua local e adquirir conhecimentos. É pós-graduada em Moda, Mídia e Inovação e seus destinos preferidos são “aqueles que enchem os olhos”, estimulando sua imaginação e seu intelecto. Para contar suas experiências, criou o blog Alto Baixo Bélgica.
Ana Laura também escreveu sobre a cidade de Bruges e “As três Bélgicas“