A Bahia e a independência do Brasil
Em 1808, a invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão obrigou a corte portuguesa a abandonar Lisboa e, escoltada por navios ingleses, refugiar-se na sua colônia sul-americana. Antes de chegar ao Rio de Janeiro, o rei passou por Salvador com sua vasta comitiva e, em meio aos rapapés convencionais, inaugurou a primeira escola de medicina do país.
Na Bahia: poucas mudanças
Os benefícios da instalação da corte portuguesa no Brasil foram imensuráveis: abertura dos portos às nações amigas (leia-se Inglaterra…), fundação de escolas e instalação de manufaturas. É possível que sem a vinda da corte para o Rio de Janeiro, o Brasil tivesse se esfacelado em vários pequenos países, como aconteceu com a América espanhola.
A chegada na corte teve, porém, mais importância imediata para o Rio de Janeiro do que para a Bahia, que manteve sua vocação agrária, sem grandes mudanças na estrutura fundiária baseada nas plantations.
Bahia, principal foco de resistência aos portugueses na independência do Brasil
A Bahia foi o principal foco de resistência portuguesa depois do Grito do Ipiranga. A situação política entre Portugal e o Vice-Reino havia se tornado tensa depois dos decretos de 29 de setembro de 1821, que restringiam o poder dos governantes nas províncias do Brasil, determinavam o fechamento dos portos e exigiam a volta de D. Pedro à metrópole. No dia 9 de janeiro de 1822, o famoso “Dia do Fico”, o príncipe se recusou a voltar a Portugal.
Em resposta, em fevereiro de 1822, os portugueses resolveram ocupar militarmente algumas capitais brasileiras. Generais subordinados diretamente a Lisboa, atuando como Governadores de Armas, transformaram-se em um poder paralelo aos dos governos civis das províncias do Brasil.
Os combates em solo baiano
Na Bahia, as forças lusitanas lideradas pelo Governador de Armas Madeira de Melo resistiram aos exércitos brasileiros por mais nove meses. Os baianos, que foram os primeiros a se insugir contra o poder colonial, iniciaram a resistência, com a tomada do Forte de São Pedro. A luta teve o apoio de comerciantes e fazendeiros, indignados com os altos impostos cobrados por Portugal e com o retrocesso representado pelo fechamento dos portos, que limitava seus mercados. Esses primeiros movimentos não foram bem sucedidos: ao se verem cercados por tropas portuguesas, os revoltosos acabaram se retirando do forte na madrugada do dia 20.
Em abril de 1822, a fim de fazer valer o seu mandato pela força, Madeira de Melo atacou o depósito de armamento e munições do Largo da Piedade e diversos quartéis e fortalezas onde se encontravam as forças brasileiras. Numa ação deplorável, os soldados portugueses invadiram também o convento da Lapa e assassinaram a golpes de baioneta a Abadessa Sóror Joana Angélica, que se tornou a primeira mártir dessa luta.
A reação brasileira
Em meio a intensa agitação política, com os fortes ocupados por portugueses, numerosa correspondência – cartas e manifestos oficiais e não-oficiais de apoio ou repúdio aos novos decretos – passou a circular entre Salvador, Lisboa e o sudeste brasileiro. A população civil começou a se retirar de Salvador e a junta de governo leal a D. Pedro se transferiu para Cachoeira. Em junho, a grave situação da província baiana, com sua capital ocupada, cobrava uma reação do Príncipe Regente. Em julho, ele enviou o francês Pierre de Labatut para comandar a luta na Bahia. O general, por motivos ainda não bem explicados, no lugar de seguir diretamente para a Bahia, onde era esperado por tropas leais, foi a Pernambuco, seguiu para Alagoas, passou por Sergipe e só chegou à Bahia em outubro. Batalhões formados por agricultores, jagunços e escravos aos quais havia sido prometida a libertação chegavam das cidades do Recôncavo. Os combates se espalharam por Salvador.
A Batalha de Pirajá
Uma das vitórias mais expressivas do exército brasileiro foi a batalha de Pirajá. Versos de cancioneiros populares contam que os brasileiros lutavam cansados e em minoria frente ao inimigo quando, diante da ordem de recuar, o corneteiro, por engano, deu o toque de avançar. Mesmo exauridos, os soldados obedeceram. O corneteiro, então, deu toque de ataque para a cavalaria. Não havia cavalaria nenhuma na retaguarda, mas o inimigo acreditou e bateu em retirada. Teria sido intervenção de Nosso Senhor do Bonfim? Segundo o historiador Luís Henrique Dias Tavares, o comunicado de Labatut ao Conselho Interino dá conta que “as tropas de Madeira de Melo foram obrigadas a ceder, pelo valor e denodo das bravas Tropas Pernambucanas e do Rio de Janeiro, como também pelos soldados da Legião da Bahia.
A Batalha de Itaparica
Outra grande batalha na Bahia pela independência do Brasil foi determinante nessa guerra. Ela foi travada na Ilha de Itaparica em janeiro de 1823. Os portugueses, que atacaram maciçamente por mar, foram repelidos pelas forças nativas entrincheiradas no Forte de São Lourenço e em outros vários locais em terra e, no mar, pelos barcos armados sob comando do 2º Tenente João Francisco de Oliveira Botas. Essa resistência botou a pique muitos barcos da esquadra lusa e causou significativas baixas entre as tropas da metrópole. Até hoje Itaparica comemora anualmente essa vitória com festas no dia 7 de janeiro.
O ultimatum
Após seguidos combates sem que se conseguisse desalojar as tropas portuguesas e com os soldados passando por privações e doenças, o clima do lado brasileiro não era dos melhores. O General Labatut foi deposto e preso, acusado de despotismo e corrupção. Em seu lugar foi nomeado o General José Joaquim de Lima e Silva, que reorganizou as tropas e arregimentou reforços em outros estados. Em junho, Lima e Silva deu um ultimato a Madeira de Melo, advertindo-o de que os reforços que ele esperava de Portugal jamais chegariam. Ao que se sabe, D. João já se resignara à independência do Brasil, com seu filho D. Pedro como imperador. Lembramos sua famosa frase: “Meu filho, coloque a coroa em tua cabeça antes que algum aventureiro o faça”. Sem esperanças de vitória, em 2 de julho, Madeira de Melo reuniu seu exército e voltou a Portugal.
O Dois de Julho
Assim, enquanto no restante do país se comemora a independência aos 7 de setembro, os baianos preferem o 2 de julho, data homenageada pelo hino estadual:
“Nasce o sol a dois de julho
Brilha mais que no primeiro
É sinal que neste dia
Até o sol é brasileiro.”
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