A Revolução Francesa

História de Paris: a Revolução Francesa. Personagens e fatos da Revolução Francesa.As reformas revolucionárias, os excessos durante a era do Terror.
A Liberdade guiando o povo
A Revolução Francesa: “La Liberté conduisant le peuple”, tela de Eugène Delacroix, 1830

A Revolução Francesa

Não foi apenas o desejo de liberdade que desencadeou a Revolução. O país estava mergulhado numa seríssima crise financeira provocada por reiterados erros administrativos. A penúria, acentuada por fatores climáticos, agravou a crise. O ano de 1788 foi completamente atípico; as temperaturas atingiram níveis tão baixos no inverno (-30ºC!) que os rios congelaram, impedindo o abastecimento da capital e o funcionamento dos moinhos movidos a água. A primavera foi extremamente seca; depois, no verão, uma tempestade violenta acabou com as lavouras. O povo de Paris estava morrendo de fome.
Alguns ministros tentaram pela primeira vez convencer a nobreza e o clero, que nunca haviam pago um centavo de impostos, a dar sua contribuição, mas foram rapidamente abandonados pelo rei, influenciado pela corte que não queria saber de cortes…

Afinal, o que foi a Revolução Francesa?

Não se pode simplificar, classificando a Revolução Francesa apenas como uma luta entre a burguesia e a nobreza e seus aliados do clero. Na verdade, não era raro burgueses abastados conquistarem títulos nobiliárquicos por meio do casamento ou como recompensa por serviços prestados ao trono. Também não é exato que ser nobre significava ser rico. A maioria deles não era realmente rica e muitos encontravam-se completamente arruinados, quase miseráveis. O baixo clero também era, muito frequentemente, pobre.

Acabar com a monarquia?

Mesmo os inimigos do regime não pensavam, em um primeiro momento, em acabar com a monarquia. Pretendiam-se reformas, como a abolição de certos privilégios da corte e do clero e o fim do Absolutismo. Embora seja apenas uma especulação, é possível que, se Luís XVI tivesse sido um pouco mais hábil, menos indeciso e mais disposto a fazer as concessões necessárias, as coisas teriam se passado de modo bem diferente. Necker, seu Ministro das Finanças, era bastante popular, e propôs reformas administrativas importantes, mas não foi apoiado pelo rei que, no momento crucial, preferiu seguir as opiniões do Conde d’Artois, seu irmão “linha dura”, e de Maria Antonieta. Necker era, aliás, copiosamente insultado pelo conde cada vez que ia se encontrar com o rei.

A tomada da Bastilha

O primeiro acontecimento importante da Revolução Francesa foi a tomada da Bastilha, prisão que era símbolo das arbitrariedades da monarquia. Coincidência ou não, esse fato ocorreu em 14 de julho de 1789, sendo que o preço do pão tinha atingido seu valor máximo no dia 13. Mesmo após a tomada da Bastilha, a monarquia foi mantida durante aproximadamente três anos. Nesse período, o rei foi pressionado a aceitar as reformas e a colaborar com as forças emergentes do chamado Terceiro Estado, a exemplo de setores do clero e da nobreza que aderiram à Revolução. Muitas das insurreições, principalmente no campo, foram praticadas por pessoas que acreditavam estar fazendo a vontade do “bom rei”, disposto a acabar com as injustiças. Atos de violência eram, aliás, acontecimentos correntes, em razão do aumento do preço do pão. Como o discernimento nunca foi característica das multidões, bastava alguém acusar um padeiro de estar escondendo o pão para que o infeliz tivesse seu comércio depredado ou até corresse o risco de ser linchado.

Mirabeau

Homens como Mirabeau desejavam uma monarquia constitucional apoiada em um parlamento. Foi ele quem orientou os soberanos a aceitar o fim do Absolutismo, e, pendurado em dívidas, foi sendo pago por seus conselhos. Embora Maria Antonieta, principalmente, não se mostrasse nem um pouco disposta a segui-los, ela e seu marido consideravam útil o contato com um revolucionário influente. Quando Mirabeau morreu, foi enterrado como herói. Mais tarde, quando se soube de seus contatos em Versalhes, seu corpo foi retirado do Panthéon e atirado numa vala comum.
Só a posterior recusa do rei em colaborar (negando-se a eliminar os resquícios feudais do regime e a assinar decretos anticlericais) e a consequente radicalização revolucionária é que precipitaram os acontecimentos.

A fome dos parisienses e a radicalização crescente

A fome, o pão cada vez mais caro e a falta de solução para o problema fizeram com que, em 4 de outubro de 1789, o rei e sua família, refugiados em Versalhes, fossem forçados a voltar a Paris. O povo parisiense acompanhou o cortejo real gritando com escárnio: “O padeiro, a padeira e o seu ajudante!”.
Um dos grandes legados da Revolução Francesa foi a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. Pelo menos no papel ficou estabelecido que os seres humanos têm direitos inalienáveis e nascem iguais. É claro que não foi a partir daí que os direitos humanos passaram a ser respeitados no mundo todo, mas seus princípios foram incorporados, no século XX, à Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU. Na realidade, a declaração francesa, nessa fase moderada da Revolução, não incluía os escravos negros das colônias, os judeus, nem as mulheres. Foi Olympe de Gouges, uma artista de teatro, a precursora da luta pelos direitos femininos, quem apareceu com um outro documento, encarado com certo sarcasmo: a Declaração dos Direitos das Mulheres e Cidadãs. Diga-se de passagem, embora as mulheres tivessem participado ativamente da Revolução, não tiveram o direito de votar nas assembleias.

A família real tenta fugir e é presa

Curiosamente, o rei e, principalmente, a rainha, achavam que as guerras contra as monarquias europeias, como a Áustria e a Prússia, poderiam beneficiá-los. Se ganhassem, o rei sairia fortalecido. Se perdessem, seria recolocado no trono pelos vencedores. Não deu certo. Após ter tentado fugir para a Áustria, o rei e sua família foram detidos em Varennes. Luís XVI, Maria Antonieta e seus filhos, ainda crianças, foram mantidos numa espécie de prisão domiciliar no Palácio das Tuileries. Posteriormente o rei foi enviado para a prisão o Temple, que não existe mais; ela ficava no atual Square du Temple. Depois que Luís XVI foi guilhotinado, Maria Antonieta foi transferida para a Conciergerie, onde ficou presa enquanto aguardava sua execução. Com os exércitos inimigos invadindo a França, começou a caçada aos “inimigos internos”. Militares tornavam-se suspeitos de colaborar com os invasores; qualquer um podia ser considerado traidor ou espião.

Os Jacobinos

Com a radicalização, os jacobinos (ala mais inflamada dos revolucionários) aproveitaram para liquidar os moderados girondinos (primos distantes dos atuais sociais-democratas?). Radicais como Danton, Robespierre e Marat assumiram a liderança da revolução. Este último só falava em guilhotina e em seu jornal L’Ami du Peuple exigia a execução dos “conspiradores”. (Se alguém espremesse o jornal, pingaria sangue…).
Desorganizados e derrotados nas primeiras batalhas, os revolucionários mobilizaram o país, aceleraram a fabricação de armas e um frenesi patriótico tomou conta da França. Até mesmo as crianças prestavam juramento à República; folhetos patrióticos eram distribuídos e cartazes convocando a população eram colocados em praças públicas. Mesmo nas artes, os motivos revolucionários tornaram-se dominantes. Jean-Baptiste Greuze, Watteau de Lille e Jacques Louis David foram os pintores da Revolução, e seus quadros estavam sempre impregnados de mensagens patrióticas. (Seriam eles os precursores da arte engajada?)

Os hinos patrióticos

A Revolução foi também inspiradora de hinos patrióticos. Primeiro o Ça ira, depois a famosíssima La Marseillaise, que se tornou o hino nacional francês. Ao contrário do que seu nome deixa supor, essa música não foi composta em Marselha, mas em Estrasburgo, em abril de 1792, por Rouget de Lisle, um oficial do exército, e se chamava inicialmente Chant de Guerre pour l’armée du Rhin (“Canto de Guerra do Exército do Reno”). A canção foi levada a Marselha, onde os soldados da guarnição local a aprenderam e, quando foram enviados a Paris, chegaram cantando o hino que ficou logo conhecido como La Marseillaise.

A era do Terror

Depois que Luís XVI e Maria Antonieta foram decapitados na Place de la Révolution (hoje Place de la Concorde), a repressão revolucionária voltou-se particularmente contra os nobres e o clero, aliados da realeza.
Castelos e igrejas foram demolidos, incendiados ou depredados. Com isso, boa parte do patrimônio arquitetônico do país foi arruinado. (Curiosamente, as principais leis anticlericais foram obra de um bispo: Talleyrand, que apoiava a Revolução.).
Posteriormente, o excesso aumentou e qualquer um passou a ser suspeito, fazendo com que, em média, cinquenta pessoas fossem executadas por dia. Essa fase mais radical da Revolução ficou conhecida como La Terreur (O Terror).

O paradoxo das revoluções

A Revolução, uma grande aspiração de liberdade, paradoxalmente transformara a França num estado de medo e injustiça. Quando ocorria um julgamento, o acusado não podia apresentar testemunhas nem tinha direito a um advogado, porque se presumia que os jurados, como bons patriotas, seriam capazes de chegar a um veredito justo e imparcial sem precisar ouvir a defesa…
Ao visitar a Conciergerie e ver a enorme lista de pessoas que por ali passaram antes de seguir para a morte, você perceberá que a maioria não era composta de nobres ou de gente do clero, mas de cidadãos comuns, por vezes de profissões bem humildes, como costureiras, padeiros e pedreiros. Chegou finalmente um momento em que até Danton e Desmoulins, que inicialmente apoiaram o Terror, denunciaram os excessos e terminaram eles mesmos condenados à guilhotina.

O assassinato de Marat

Marat, que sofria de psoríase, tinha crises durante o verão e só se sentia melhor numa banheira de água fria. Charlotte Corday, uma jovem partidária dos girondinos, indignada com o Terror, conseguiu ser recebida por ele. Num momento em que ficaram a sós, quando a noiva do revolucionário se afastou para buscar um remédio, ela rapidamente o apunhalou na banheira. Foi guilhotinada, é claro.
O restante da liderança da Revolução também acabou aniquilado, uma vez que cada facção que chegava ao poder mandava guilhotinar os líderes rivais, muitas vezes mais por meras diferenças pessoais que por reais divergências ideológicas.

Robespierre

Robespierre, que persistiu em manter o Terror, a cada momento acusava um de seus próprios companheiros de traição. Diga-se de passagem, a ordem estabelecida por Robespierre, secundado por burocratas obedientes, atingiu também os operários, proibidos de se reunir em assembleias. Qualquer protesto era considerado contrarrevolucionário. Entre 11 de junho e 27 de julho de 1794, 3176 pessoas foram mortas, fazendo com que os parisienses se horrorizassem cada vez mais com as execuções. Finalmente, o próprio Robespierre acabou guilhotinado. Foi o fim do Terror.

Dicas culturais

  • O filme Danton, com Gérard Depardieu no papel principal, é um dos melhores já produzidos sobre a era do Terror.
  • O livro Cidadãos, de Simon Schama, é um excelente relato histórico da Revolução Francesa.
  • O episódio da fuga de Luís XVI e Maria Antonieta foi tema do filme La nuit de Varennes, com Marcello Mastroianni, exibido no Brasil com o nome Casanova e a Revolução.
  • Três versões da Marselhesa, uma delas a cena do filme Casablanca. Veja os vídeos com a Marseilleuse.

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